Título: Cardeais que decidem
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 30/05/2007, O Globo, p. 2

O senador Sibá Machado, do PT do Acre, será escolhido hoje presidente do Conselho de Ética do Senado, passando a conduzir o processo contra o senador Renan Calheiros, pedido ontem pelo PSOL. Como maior partido, o PMDB poderia reivindicar o cargo, mas está confiando na solidariedade do aliado. Apesar das complicações do caso, o grupo de senadores que efetivamente forma opinião no Senado, reunido em almoço, reiterou o crédito de confiança externado anteontem a Renan.

O almoço, na casa do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, reuniu o núcleo essencial daqueles que, por respeito, experiência e demais atributos pessoais e políticos, acabam influenciando o conjunto de senadores, ajudando a formar a opinião média do plenário. Lá estiveram, além do anfitrião, os senadores Aloizio Mercadante (PT), José Agripino (DEM), Arthur Virgílio (PSDB), Tião Viana (PT), Antonio Carlos Magalhães (DEM), Pedro Simon (PMDB), Sérgio Guerra (PSDB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB). Certamente, há outros senadores cuja opinião tem peso especial, mas a convergência entre estes, acima citados, foi claramente favorável ao presidente do Senado. Foi também comum a preocupação com os excessos da PF, os ataques freqüentes ao Congresso, a necessidade da reforma política e de medidas fortes contra a corrupção.

Aparentemente, a situação do presidente do Senado piorou depois de seu discurso: o advogado da ex-apresentadora de TV repetiu que ela recebeu pagamentos de pensão por meio do diretor da construtora Mendes Júnior; o PSOL entrou com a representação no Conselho de ética; e o próprio Renan admitiu não poder comprovar os pagamentos feitos antes de dezembro de 2005, quando reivindicou a paternidade da filha e passou a pagar oficialmente uma pensão de R$3 mil (e não mais de R$8 mil mais aluguel, como vinha pagando informalmente). Apesar destes fatos, o grupo de cardeais-senadores manteve o crédito dado a Renan e a seus argumentos.

Como maior partido, o PMDB de Renan poderia reivindicar a presidência do Conselho de Ética. Cedendo o cargo ao PT, evita discussões sobre impedimentos morais. Sibá Machado é um dedicado governista, um dos poucos que travou a luta política em defesa do PT na CPI dos Correios. A correlação de forças no corpo do Conselho também é favorável a Renan. Na verdade, o que se estabeleceu no Senado foi uma ampla convergência a seu favor, reunindo governistas e oposicionistas, enquanto vozes isoladas, como a do senador Jefferson Peres (PDT), pedem providências mais duras, como o afastamento de Renan da presidência do Senado até o final do processo. Mas, sem a emergência de um fato novo e grave, estas posições não romperão o cordão de proteção gregária. Renan, diferentemente de ACM e Jader Barbalho, não tem inimigos na Casa. E tem muitos amigos. Está tendo o apoio até de Agripino Maia, a quem derrotou na recente disputa pela presidência do Senado. Ou o de ACM, que ontem, pouco antes de passar mal, não escondia o desgosto com a situação nem a disposição para ajudar Renan.