Título: Um grande acordão a caminho
Autor: Gois, Chico de e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 30/05/2007, O País, p. 3

PSOL decide levar Renan ao Conselho de Ética, mas demais partidos tentam evitar.

BRASÍLIA. Os principais líderes partidários fecharam ontem um acordo para tentar adiar a abertura de um processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Embora a presidente nacional do PSOL, a ex-senadora Heloisa Helena (AL), tenha ido a Brasília especialmente para protocolar uma representação contra Renan no Conselho de Ética - e vários senadores admitam que a defesa apresentada por ele tem falhas graves -, governistas convenceram setores da oposição que o mais prudente, no momento, é aguardar a investigação iniciada pelo corregedor da Casa, senador Romeu Tuma (DEM-SP).

O acordo passa pela eleição do novo presidente do Conselho de Ética, que será instalado hoje, a partir das 10h. O nome escolhido pela base governista é o do senador Sibá Machado (PT-AP). Ontem, Sibá adiantou que o Conselho deve aguardar o resultado da investigação da Corregedoria, antes de analisar o pedido de abertura de processo contra Renan:

- O mais prudente seria esperar um posicionamento do senador Tuma, que já está analisando os documentos apresentados.

O PMDB, como maior bancada, teria o direito de reivindicar o cargo de presidente do Conselho de Ética. O líder da bancada, senador Valdir Raupp (RR), pensava em indicar Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos aguerridos defensores do governo Lula. No entanto, diante da representação do PSOL contra Renan, chegou-se à conclusão de que a eleição de um peemedebista reforçaria as especulações sobre uma manobra governista para preservar o presidente do Senado. O bloco governista, integrado por PT, PSB, PCdoB, PTB, PP e PR, indicou Sibá.

A oposição não pretende brigar pelo comando do Conselho de Ética, embora o bloco formado por Democratas e PSDB supere em tamanho o bloco governista.

- Vamos seguir o comportamento que tivemos na instalação de outras comissões e até mesmo na CPI do Apagão. Vamos respeitar a proporcionalidade. O bloco governista indicará o candidato a presidente e nós, o vice. Não faço restrição a nenhum nome - disse o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN).

Jefferson Péres sugere que presidente da Casa se licencie; Renan descarta hipótese

Nem todos os senadores concordam com o adiamento da abertura do processo contra Renan. O líder do PDT e titular do Conselho de Ética, senador Jefferson Péres (AM), por exemplo, chegou a sugerir que Renan tirasse uma licença da presidência do Senado, para não constranger os colegas investigarão as denúncias contra ele, seja na Corregedoria ou no Conselho.

- O presidente já está sob investigação, o melhor seria ele se licenciar. Aliás, essa deveria ser uma praxe nesta Casa - propôs Peres.

Renan descartou a hipótese de se afastar:

- Não há nenhuma acusação contra mim.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse considerar inevitável a abertura de processo contra Renan, até porque a Corregedoria deveria se ater a investigações sobre atos de senadores praticados dentro do Congresso. A Mesa Diretora do Senado, presidida por Renan, deverá encaminhar a representação do PSOL para o Conselho de Ética. Ao receber o pedido, o presidente do Conselho teria de designar uma comissão de três senadores para promover a investigação, dando oportunidade de defesa para Renan. As conclusões dessa comissão, pelo arquivamento ou não do processo, seriam, então, submetidas ao plenário. Só a partir da aprovação da abertura do processo o presidente do Senado não teria mais como renunciar ao mandato para não correr o risco de cassação.

Ao protocolar ontem a representação contra seu conterrâneo, Heloisa também defendeu o afastamento de Renan da presidência:

- Acho que, em caso de parlamentar investigado por crimes contra a administração pública, tráfico de influência, intermediação de interesse privado, exploração de prestígio, recebimento de vantagens indevidas, é natural e salutar para o procedimento investigatório que saia de uma posição de comando político da Casa para garantir a investigação.

A denúncia apresentada pelo PSOL propõe a apuração não só das suspeitas de que Renan teria tido despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior, levantadas pela revista "Veja", como também as denúncias publicadas pelo GLOBO de que o presidente do Senado teria usado laranjas para ocultar patrimônio no município alagoano de Murici.

O partido propôs ainda que seja apurado o envolvimento de Renan com o esquema de fraudes de licitações públicas desvendado pela Operação Navalha, a partir de uma conversa grampeada que Renan teve com o ex-superintendente da Caixa Econômica Federal Flávio Pin, um dos presos na investigação. Heloisa disse que o melhor para apurar esse escândalo seria a instalação da CPI da Navalha.

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), o drama enfrentado por Renan está longe de acabar.

- Ele não conseguiu encerrar o assunto com a defesa apresentada, pois ainda restam muitas dúvidas - resumiu.