Título: Câmara desiste de tentar mudar o Orçamento
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 30/05/2007, O País, p. 9

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Presidente da Câmara afirmara que emendas de bancada estavam com os dias contados.

Chinaglia diz que não há acordo entre os partidos e que, por isso, mudanças devem ser adiadas para o fim do ano.

BRASÍLIA. Com a crise instalada no Senado, os líderes da Câmara adiaram ontem, mais uma vez, o anúncio das propostas do pacote anticorrupção. A prioridade fixada ontem foi a votação da reforma política - na próxima semana. O presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), justificou a falta do anúncio de medidas prometidas com a ausência de consenso entre as bancadas em torno das propostas dos líderes partidários.

- Há consenso de que é preciso mudanças, mas sobre que mudanças, não há. Vamos trabalhar. Se até o final do ano conseguirmos consenso sobre as mudanças internas, vamos propor e votar - disse Chinaglia.

Ele deu como exemplo as mudanças relativas ao funcionamento da Comissão de Orçamento. Na semana passada, os líderes se reuniram por três horas e meia e anunciaram o movimento de luta contra a corrupção. Emocionado, o presidente da Câmara relatou aos demais deputados o encontro e disse que as emendas de bancada - apontadas como principal foco de corrupção e ralos do dinheiro público - estavam com os dias contados.

CPI da Operação Navalha já tem 149 assinaturas

Chinaglia pediu aos técnicos da Casa que sugerissem medidas para um controle mais rígido do Orçamento. Na reunião de ontem várias propostas foram apresentadas, como o fim das emendas de bancada e o repasse do dinheiro de emendas individuais direto aos municípios, mas não houve consenso em torno de nenhuma delas. E, mais um vez, a votação da reforma política, anunciada para esta semana, foi adiada para a próxima.

Os líderes rebatem afirmações de que o esforço foi adiado e sustentam que a reforma política é um ponto importante para esta finalidade.

- Se mudarmos o financiamento das campanhas, vamos desconstituir relações nebulosas. A reforma política é importante também para acabar com a corrupção - justificou o líder do PFL, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

- Acertamos os procedimentos, vamos votar a reforma política e depois discutir mudanças no orçamento - acrescentou o líder da minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).

Durante a reunião, alguns líderes da base aliada chegaram a tratar da criação da CPI da Operação Navalha. Até ontem, a oposição tinha 149 assinaturas - 22 a menos da exigência regimental (171 assinaturas). Quatro deputados da base retiraram seus nomes. Os líderes aliados criticaram o que consideram "vazamento seletivo" de informações por parte da Polícia Federal e avisaram que se isso se mantiver, o melhor será mesmo apoiar a CPI e permitir uma apuração de todos os casos.

Chinaglia criou ainda um grupo técnico para analisar a tramitação de medidas provisórias. Espera receber, em um mês, um relatório sobre medidas a serem aprovadas, inclusive com mudança constitucional.