Título: Jackson Lago admite irregularidades no Maranhão após ouvir fitas: 'Estou triste'
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 31/05/2007, O País, p. 4

Governador diz, no entanto, que não sabia do envolvimento de seus sobrinhos.

BRASÍLIA. Depois de prestar depoimento no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador do Maranhão, Jackson Lago, admitiu ontem que existem indícios de irregularidades em seu estado, a partir do que a PF descobriu na Operação Navalha. Ele também disse achar possível que seus dois sobrinhos presos na operação, Alexandre Maia Lago e Francisco Lima Junior, tenham participado de fraudes. Lago negou, no entanto, que tenha se envolvido no esquema operado pela Gautama.

- Há evidências de irregularidades, que têm que ser apuradas. Estou triste com tudo isso - disse Lago, que ouviu as gravações da PF e reconheceu a voz dos sobrinhos.

Na terça-feira, a ministra do STJ Eliana Calmon decretou o fim do sigilo das investigações. No despacho, ela escreveu que a decisão foi tomada para evitar a divulgação de "boatos e maledicências que pairam sobre pessoas que nenhum envolvimento têm com os fatos em apuração". Para a ministra, a confidencialidade do inquérito perdeu o sentido depois que a imprensa noticiou o conteúdo de diálogos interceptados nas investigações. Mas apenas os advogados dos suspeitos poderão ter acesso ao inquérito.

Também foram interrogados a portas fechadas o governador de Alagoas, Teotônio Vilela; o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau; o ex-procurador do estado do Maranhão, Ulisses Martins, e o deputado distrital Pedro Passos. Lago foi confrontado com as gravações de diálogos de seus sobrinhos oferecendo vantagens em seu nome, e disse ter se decepcionado ao saber do possível envolvimento de parentes no esquema:

- É profundamente lamentável. Havendo a constatação disso, nós esperamos que seja uma lição. É profundamente triste.

O advogado de Lago, José Eduardo Alckmin, disse que seu cliente está disposto a colaborar com as apurações e negou que os sobrinhos agissem com o conhecimento do governador. Alckmin disse que o governador tem vários meios de provar sua inocência, mas não especificou quais seriam esses meios:

- Ele não recebeu valor nenhum. Jamais receberia, porque não se coaduna com o estilo de vida dele. Ele jamais autorizou quem quer que seja a atuar em nome dele, ainda mais pedindo vantagens.

Lago informou ter deixado à disposição do STJ seus sigilos bancário e fiscal. Ele entregou ontem a Eliana Calmon cópia de sua declaração de bens e de extratos bancários. Na declaração, constaria apenas o apartamento onde mora com a mulher, uma casa utilizada por sua ex-sogra, e um automóvel financiado em 36 vezes, que ainda não foi quitado. Ao negar participação nas fraudes, afirmou que poderia ter acumulado patrimônio maior se exercesse a profissão de médico ou se fosse corrupto:

- Tenho uma vida honrada e limpa. Fui um profissional exitoso. Se eu quisesse ganhar dinheiro, teria ganhado como profissional. Se eu tivesse amor ao dinheiro e fosse desonesto, teria tido oportunidades. Exijo que examinem a minha vida.

Ao sair do STJ, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), disse que, logo no início de seu depoimento, Eliana Calmon informou que ele não está sendo investigado. Teria sido chamado a depor apenas para colaborar com as investigações. Teotônio disse que está disposto a colaborar e lembrou que exonerou os servidores do estado presos na operação por envolvimento nas fraudes:

- Fui citado porque as investigações envolvem o estado de Alagoas, e eu sou o governador. A ministra fez questão de dizer que não estou sendo investigado, fui chamado apenas para colaborar. O governo de Alagoas é o maior interessado em que tudo isso se resolva, para que os eventuais culpados sejam devidamente responsabilizados.