Título: Paz em baixa nos EUA
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Fonte: O Globo, 31/05/2007, O Mundo, p. 34

País ocupa o 96º lugar em lista de países mais pacíficos do mundo. Noruega é 1º e Iraque, último

Os Estados Unidos estão entre os países mais violentos do mundo, de acordo com um estudo divulgado ontem. Entre 121 países analisados pelo seu nível de paz, interna e externa, por um painel de especialistas, os EUA ficaram no 96º lugar, só uma posição à frente do Irã. O Brasil ficou numa fraca 83ª colocação, num ranking que situa o Iraque como país mais violento do mundo e a Noruega como o mais pacífico.

Os dados foram reunidos no estudo Índice da Paz Mundial (IPM) pela Economist Intelligence Unit, divisão de estudos da revista britânica "The economist", e divulgados depois de conferidos e aprovados por um grupo de notáveis, entre os quais o ex-presidente americano Jimmy Carter, o bispo sul-africano Desmond Tutu, o Dalai Lama e o economista Joseph Stiglitz.

- O objetivo do IPM é ir além da medida crua de guerras ao explorar sistemicamente a textura da paz - disse o presidente do IPM, Clyde McConaghy. - A paz pode, tem de ser e continuará a ser medida.

Para construir o ranking, os especialistas analisaram a paz interna e as guerras travadas pelos países nos últimos anos. Foram levados em consideração 24 itens, como número de vítimas em conflitos internos e externos, relação com países vizinhos, desconfiança entre os cidadãos, gastos militares, exportação de armas, instabilidade política e direitos humanos.

- O IPM existe para ampliar nossa definição do que é a paz - disse Harriet Fullbright, uma das pessoas a rever os dados da pesquisa. - A paz não é apenas a ausência de guerra. É a ausência de violência.

Uma das principais conclusões do estudo é que países estáveis e democráticos tendem a ser mais pacíficos.

- A democracia na verdade não tem uma correlação direta com paz, mas uma democracia em pleno funcionamento, sim. A existência de governos eficientes, que sejam responsáveis e prestem contas à sociedade, parece ser o fator determinante para a paz. Além disso, a renda ajuda - disse Leo Abruzzese, um dos pesquisadores.

Descobriu-se também que renda e educação ajudam a se ter paz interna, mas que não há qualquer fator que indique quem entrará em guerra.

Os piores colocados segundo os dados do estudo demonstram o amplo alcance das manifestações de violência levadas em conta pelo IPM. O último lugar é o Iraque. Em seguida vem o Sudão, pela crise em Darfur. Depois vem Israel, devido à desconfiança entre seus cidadãos, ao desrespeito aos direitos humanos e aos altos gastos militares. A Rússia, pela crise na Chechênia e as exportações de armamento, é o quarto país mais violento.

A péssima posição dos EUA foi um dos destaques do estudo, com o país ficando na 96ª colocação, atrás de El Salvador (89º), Arábia Saudita (90º) e Iêmen (95º), e apenas uma posição à frente do arquiinimigo Irã.

Segundo Abruzzese, a colocação se explica devido ao número de guerras nas quais o país se envolveu recentemente, e a altos gastos de defesa. Os EUA têm também a maior população carcerária per capita do mundo.

O Brasil ficou em 83º devido ao alto grau de violência urbana. Outros países importantes tiveram colocações ruins. A Índia, segundo país mais populoso do mundo, ficou em 109º. A Turquia está em 92º. Cuba e China ficaram em posições medianas, respectivamente 59º e 60º lugares.

Outros países surpreenderam, como Butão (19º, segundo lugar na Ásia), e Omã (em 22º, foi o país de maioria árabe mais bem colocado).

A América do Sul tem dois países entre as 20 nações mais violentas da lista. Em 116º está a Colômbia e a Venezuela, em 102º. No outro extremo, o Chile é o mais pacífico país da região, em 16º lugar. Pouco atrás vem Uruguai (24º). Argentina (52º), Paraguai (55º), Bolívia (69º) e Peru (70º) também estão à frente do Brasil.

Japão e Alemanha entre mais pacíficos

Os dez primeiros são Noruega, Nova Zelândia, Dinamarca, Irlanda, Japão, Finlândia, Suécia, Canadá, Portugal e Áustria. A Alemanha, que iniciou a mais destrutiva guerra da História, em 1939, está em 12º. França (34º) e Reino Unido (49º), porém, não foram tão bem.

A iniciativa de criar o IPM foi do filantropo sul-africano Steve Killelea. Ele disse que é possível reduzir bastante o nível de violência nos países:

- Se nos fixarmos nos 12 primeiros países vemos que há três que tiveram muitos conflitos: Alemanha, Japão e Irlanda. A lição que extraímos é que os países podem mudar com o tempo.

Nações em que não se conseguiu ter dados confiáveis não entraram na lista. Entre elas estão Coréia do Norte, Afeganistão e Haiti. Mais países devem entrar na lista, que passará a ser anual, no futuro.

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