Título: ONU aprova tribunal para julgar caso Hariri
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Fonte: O Globo, 31/05/2007, O Mundo, p. 35

Conselho de Segurança dá prazo para Líbano criar corte que vai avaliar suspeitos do assassinato de ex-premier em 2005

NOVA YORK. O Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem a criação de um tribunal internacional para julgar os suspeitos pelo assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik al Hariri, morto em fevereiro de 2005 num atentado com carro bomba, que tirou a vida de outras 22 pessoas. A resolução foi aprovada por dez votos a favor e teve cinco abstenções.

Enquanto os Estados Unidos defenderam a criação do tribunal, Rússia, China, África do Sul, Indonésia e Qatar se abstiveram na votação. Os contrários à medida alegam que ela pode servir como instrumento de Washington para manipular Líbano e Síria, acusada de estar por trás da morte de Hariri.

O tribunal é motivo de intensa discussão dentro do próprio Líbano. O primeiro-ministro Fouad Siniora é a favor da resolução da ONU mas o líder do Parlamento, Nabih Berry, se recusa a convocar uma sessão para ratificar o novo tribunal. A resolução do Conselho de Segurança dá ao Parlamento do Líbano uma última chance de estabelecer o tribunal por si mesmo. Se isto não acontecer até o dia 10 de junho, um acordo anterior entre o governo libanês e a ONU entrará em vigor automaticamente, criando o tribunal fora do Líbano com juízes e promotores internacionais.

Síria não pretende colaborar com novo tribunal

O ponto central da polêmica é a Síria, que ainda divide as preferências no Líbano desde o fim da ocupação do território libanês, pouco depois da morte de Hariri, em 2005. Damasco nega envolvimento no assassinato do ex-premier e já indicou que não pretende colaborar com o tribunal internacional. O embaixador dos EUA na ONU, Zalmay Khalilzad, alertou a Síria de que o país enfrentará "pressão crescente" se não colaborar:

- O governo sírio deve ter consciência das conseqüências de sua recusa em colaborar com o tribunal. Essa é uma vontade do Líbano e da comunidade internacional.

O presidente do Líbano, Emile Lahoud, que é pró-Síria, alertou que a resolução poderia detonar uma onda de violência.

Detalhes sobre o tribunal, incluindo onde ele será criado caso o Líbano o rejeite, ainda deverão ser discutidos por diplomatas. Inicialmente, Chipre, Itália e Holanda poderiam acolher o órgão internacional. A expectativa é que os trabalhos comecem em 2008.

Autoridades libanesas mantêm presos atualmente oito pessoas suspeitas de envolvimento na morte de Hariri. Entre eles estão quatro generais pró-Síria, que lideravam departamentos de segurança libaneses à época do assassinato, e quatro membros de um pequeno grupo sunita apoiado pela Síria, acusado de colaborar monitorando os movimentos do ex-premier.

Uma investigação da ONU, em andamento, ainda não recomendou formalmente os nomes que devem ser acusados pelo assassinato.

Questionado sobre se a ONU tinha o direito de solucionar um problema político interno libanês, o embaixador britânico na ONU, Emyr Jones Parry, afirmou:

- Legalmente podemos, politicamente devemos, e o Líbano, em sua atual situação, merece e requer nosso apoio.