Título: Depoimento de Silas contradiz o do ex-assessor
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/06/2007, O País, p. 9

Ministra Eliana Calmon desbloqueia contas de pessoas e empresas ligadas ao esquema da construtora Gautama.

BRASÍLIA. A situação do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau se complicou ainda mais após o depoimento que prestou à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, quarta-feira. Suas declarações sobre o dono da Gautama, Zuleido Veras, suposto chefe da máfia de obras públicas, chocam-se com relato de seu ex-assessor especial Ivo de Almeida Costa. De acordo com o relatório da Operação Navalha, da Polícia Federal, Zuleido teria pago R$100 mil de propina a Rondeau em 13 de março. A transação, segundo a PF, teria sido intermediada por Ivo Almeida.

No depoimento a Eliana Calmon, relatora da Operação Navalha, Silas Rondeau disse que conheceu Zuleido numa inauguração no Mato Grosso, mas negou que o tenha encontrado no ministério antes ou depois do suposto pagamento da propina. "Conhece Zuleido, mas não há registro de ter esta pessoa estado no gabinete depoente (Silas Rondeau)", diz cópia do depoimento obtida pelo GLOBO. Segundo Silas, Zuleido esteve no ministério algumas vezes, mas para falar com Ivo Almeida.

O ex-assessor especial de Silas apresentou versão diferente. Interrogado por Eliana Calmon dia 22, ele disse que esteve numa reunião com Rondeau e Zuleido no ministério, quando trataram do Luz para Todos, um dos principais programas sociais do governo federal. "Que uma única vez participou de reunião em que estavam o ministro e Zuleido para tratar do Luz Para Todos", diz trecho do depoimento de Ivo Almeida.

O ex-assessor fez a declaração ao explicar que tinha acesso livre ao gabinete do ex-ministro e que, em alguns casos, participava de reuniões dele com governadores, parlamentares e empreiteiros. Almeida foi um dos 48 servidores públicos, políticos, lobistas e empresários que tiveram a prisão preventiva decretada pela ministra. Depois do interrogatório, Almeida foi solto e deve responder as acusações em liberdade.

Relatório da Navalha, elaborada pela Divisão de Contra-Inteligência da PF, sustenta que "no dia 13/03/07, em Brasília, Silas Rondeau (ministro das Minas e Energia) recebeu, por meio de Almeida, a quantia de R$100 mil, entregue por Maria de Fátima Palmeira (gerente comercial da empreiteira)". Segundo o documento, a propina era retribuição ao empenho de Silas para a destinação recursos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) "ao convênio que beneficiaria a Gautama".

Num dos trechos do relatório, a polícia descreve que o dinheiro foi entregue a Almeida por Maria de Fátima, no gabinete do ex-ministro. Ele teria repassado o dinheiro a Silas, que deixou o cargo após a divulgação de trechos do relatório. Ele disse que não recebeu propina e que não tinha vínculos com Zuleido ou com integrantes da organização do empreiteiro.

Num depoimento de nove horas prestado a Eliana Calmon nos dias 25 e 26, Maria de Fátima negou que tenha levado o pacote de R$100 mil. Mas, ao longo do interrogatório, caiu em contradição. Ela disse que foi ao ministério em 13 de março para conversar com Almeida sobre o gasoduto de Urucu, projeto da Petrobrás de interesse da Gautama. Alega que sua ida naquele dia foi sugestão do lobista Sérgio Sá, outro acusado de integrar a organização de Zuleido.

Sá estava no gabinete do ministro em companhia de Almeida e teria ligado para que Maria de Fátima fosse lá falar sobre o projeto. "Sérgio Sá estava com o dr. Ivo no ministério e ligou para a depoente dizendo que ela poderia levar a documentação de Urucu, mas que fosse urgente". Em depoimento no dia 22, Sérgio Sá desmentiu essa versão: "Não foi o depoente quem intermediou o encontro de Fátima ou Zuleido com o dr. Ivo. Que efetivamente no dia 13 encontrou-se casualmente com Fátima no ministério".

A ministra desbloqueou ontem as contas bancárias das pessoas e das empresas suspeitas de envolvimento no esquema. No entanto, fixou limite de movimentação de R$20 mil por mês para os titulares de cada uma das contas. Também decidiu que as contas de aplicação e os saques de valores elevados ficariam submetidos à análise judicial em cada caso. Eliana Calmon determinou a devolução, a partir de terça-feira, dos veículos apreendidos, após perícia.