Título: Para ser ministro, cargo que diz ser sagrado, Mangabeira desiste de ação
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 01/06/2007, O País, p. 12

Planalto avisou que ele só assumiria se recuasse de processar Brasil Telecom.

BRASÍLIA. De nada adiantaram os recados e o ultimato dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao professor Mangabeira Unger, na esperança de que ele desistisse de ocupar a futura Secretaria de Ações de Longo Prazo. A nomeação do ministro do PRB, na cota do vice-presidente, José Alencar, para uma pasta muito criticada, estava na corda bamba desde que foi noticiada uma ação aberta pelo futuro ministro contra a Brasil Telecom, no dia 30 de abril.

Depois de ter escrito, em 2005, que o governo Lula era "o mais corrupto da história", Mangabeira voltou a causar embaraço ao Planalto com a ação contra a Brasil Telecom, empresa de telefonia que tem fundos de pensão de estatais como acionistas. Houve um grande mal-estar, e interlocutores de Lula revelaram seu desejo de que Mangabeira desistisse de ser ministro. Mas ontem o professor disse ao partido, numa carta, que abre mão da ação para ser nomeado para o cargo, que disse considerar "sagrado".

Por intermédio do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, Lula deu um ultimato a Mangabeira logo cedo: ou abandonava a ação que protocolou nos Estados Unidos depois de ser convidado para a nova pasta, ou não poderia trabalhar no governo.

- Se isso for um empecilho legal, das duas uma: ou ele retira a ação ou desiste do cargo - afirmou o ministro, depois de se reunir com Lula no Alvorada.

Walfrido, porém, disse que o assunto não havia sido discutido com o presidente.

A ação contra a Brasil Telecom refere-se a cobrança de honorários que Mangabeira afirma que a empresa lhe deve. Lula indicou o professor de Harvard para a futura secretaria a pedido de Alencar. O vice, constrangido, não quis comentar o episódio envolvendo Mangabeira.

- Vários brasileiros pediram ao presidente sua indicação - desconversou.