Título: Sob pressão, Bush fala de clima
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Fonte: O Globo, 01/06/2007, Ciência, p. 33

Discurso, às vésperas de reunião do G8, não apresenta propostas concretas.

WASHINGTON

Sob fortes críticas por resistir a tomar ações concretas contra o aquecimento global, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, conclamou ontem 15 países poluidores a elaborarem, até 2008, um plano de longo prazo para a redução de emissões de gases do efeito estufa. O anúncio foi feito às vésperas do início da reunião do G8 na Alemanha, cujo principal tema será mudanças climáticas.

Em seu discurso, Bush citou nominalmente China e Índia como nações que deveriam participar do pacto, além das desenvolvidas. Nenhuma menção foi feita diretamente ao Brasil, mas o país está entre os maiores emissores de CO2 do mundo (em razão das queimadas) e foi convidado para participar da reunião do G8, juntamente com China, Índia e África do Sul.

Apoio reiterado a novas tecnologias

¿ Parte da imprensa americana considerou o discurso de Bush como um passo importante na luta contra o aquecimento global, embora ele não tenha apresentado qualquer proposta concreta nem estabelecido metas de redução para o país. Os EUA se recusaram a ratificar o Acordo de Kioto e, sistematicamente, rechaçam todas as propostas internacionais de cortes de emissões.

Como já fez em outras ocasiões, Bush frisou, em seu discurso, a importância do desenvolvimento de novas tecnologias que tornem o uso da energia mais eficiente. Os críticos classificaram o discurso como uma manobra diversionista, uma forma de adiar, mais uma vez, o tema. Mas alguns líderes europeus se mostraram mais otimistas afirmando que pode se tratar de um primeiro passo.

Ainda assim, foi o mais forte pronunciamento do governo dos EUA sobre a redução de emissões globais após o fim da vigência do Acordo de Kioto, em 2012. A chanceler federal de Alemanha, Ângela Markel, já havia manifestado a intenção de elaborar um acordo sobre mudanças climáticas durante a reunião do G8 e Bush vem sendo pressionado desde então.

- Os Estados Unidos levam esse assunto muito a sério ¿ garantiu Bush, em seu pronunciamento. ¿ Minha proposta é que até o fim do próximo ano, os EUA e outras nações elaborem uma meta global para a redução de gases do efeito estufa. Para chegarmos a essa meta, os EUA vão realizar uma série de encontros das nações que mais emitem gases do efeito estufa, entre elas as que apresentam crescimento econômico acelerado, como Índia e China.

Para Ângela Merkel, cujo governo já propôs um corte de 50% das emissões até 2050, o pronunciamento de Bush mostra que o tema não pode ser ignorado, mas que é preciso trabalhar em propostas concretas para o encontro do G8.

- Acho que o importante é que, pela primeira vez, os EUA estão dizendo que querem fazer parte de um acordo global ¿ afirmou o primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

O debate internacional ocorreu no mesmo dia em que a Nasa e a Universidade de Columbia anunciaram que o clima do planeta está alcançando um ponto crítico jamais atingido anteriormente, com conseqüências potencialmente perigosas para o planeta. Os cientistas concluíram que diversas regiões do planeta, fontes de água potável e habitats de numerosas espécies estão sob ameaça diante do contínuo aquecimento.