Título: Embaixador venezuelano é obrigado a dar explicações ao Itamaraty
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 02/06/2007, O País, p. 4

CRISE DIPLOMÁTICA: Governo brasileiro quis deixar claro que Chávez errou.

Para diplomatas, declarações de Chávez foram "duras e desequilibradas".

BRASÍLIA. O embaixador da Venezuela no Brasil, Júlio Garcia Montoya, foi obrigado a dar explicações ao governo brasileiro tão logo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que ele fosse convocado pelo Ministério das Relações Exteriores. As declarações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sobre o Congresso brasileiro foram consideradas "duras e desequilibradas" pela área diplomática.

O Itamaraty, que sempre orientou o presidente a não comentar a decisão de Chávez de não renovar a licença do canal de televisão RCTV - o mais antigo do país - respaldou a atitude de Lula que, instruído pelo chanceler Celso Amorim, determinou a convocação do embaixador venezuelano Julio Garcia Montoya.

Para governo, Chávez tem perfil polêmico

O teor da conversa ontem à tarde entre o ministro interino das Relações Exteriores, embaixador Rui Nogueira, e o embaixador da Venezuela foi mantida em sigilo. Fontes do governo brasileiro revelaram, no entanto, que o objetivo da convocação não era apenas exigir explicações de Montoya. Mais do que isso: a intenção era deixar claro que Chávez errou ao criticar os parlamentares do Brasil de forma ofensiva.

Apesar do impasse, a avaliação do Itamaraty e do Palácio do Planalto é de que o presidente da Venezuela tem um perfil polêmico e problemático. Entretanto, é melhor que ele permaneça no Mercosul.

- De perto é mais fácil controlar os arroubos de Chávez. Basta que não alimentemos algumas idéias que não se adequam à política externa brasileira - disse uma graduada fonte diplomática.

Essas idéias são pautadas, principalmente, pelo discurso antiamericano de Chávez. A despeito das críticas que o presidente da Venezuela faz, sempre que pode, aos Estados Unidos, o venezuelano jamais se referiu diretamente ao Brasil.

Um exemplo disso foi a visita de George W. Bush a São Paulo, em março último. Chávez fez comício em Buenos Aires atacando os EUA - ao lado de um de seus aliados, o presidente argentino Néstor Kirchner - mas não citou o governo brasileiro. Não poupou, todavia, as críticas ao etanol.

Comércio entre os dois países deve crescer 30%

Além do lado político, há o aspecto econômico, que aproxima cada vez mais o Brasil da Venezuela. É o que mostram os números: de 2003 a 2006, os venezuelanos saltaram da 23ª para a 10ª posição entre os principais compradores de produtos brasileiros, com um crescimento superior a 600% no comércio. Para este ano, a estimativa da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela é de um aumento entre 25% e 30% no intercâmbio.