Título: Congresso acusa Chávez de agir como ditador
Autor: Vasconcelos, Adriana e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 02/06/2007, O País, p. 8

CRISE DIPLOMÁTICA: "Só devemos prestar contas ao povo brasileiro, que tem o poder de nos eleger", diz Chinaglia.

Presidentes do Senado e da Câmara, além de líderes partidários, reagem a ataques do presidente venezuelano.

BRASÍLIA. As críticas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Congresso do Brasil deixaram indignados deputados e senadores da base e da oposição. A reação foi comandada pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que repudiaram os ataques de Chávez de forma veemente. O que mais revoltou os parlamentares foi a expressão "papagaio dos EUA", usada por Chávez para se referir ao Congresso, num revide à decisão do Senado de condenar o fechamento da mais antiga emissora de TV da Venezuela, a RCTV.

Na sessão do Senado, em discursos inflamados, vários parlamentares acusaram Chávez de agir como ditador.

- Um chefe de Estado que não sabe conviver com manifestações democráticas, como a do Senado, é porque, provavelmente, está na contramão da democracia. Qualquer movimento contra a democracia, contra a liberdade de imprensa, tem que ter um veemente repúdio à altura, e o Senado fará isso toda vez que necessário - disse Renan.

Chinaglia também criticou o presidente venezuelano:

- Só devemos prestar contas ao povo brasileiro, que tem o poder de nos eleger e o direito e o poder de nos cobrar. Ele (Chávez) está contaminado pela disputa interna na Venezuela e se dá um direito que não tem. É um exagero, que evoluiu para desrespeito, e que rechaçamos.

À tarde, Chinaglia formalizou o repúdio em nota oficial, na qual classificou as declarações do venezuelano de "levianas e irresponsáveis".

Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) defendeu a posição do Senado, de condenar o fechamento da emissora venezuelana, que, segundo ele, é um apelo em favor da liberdade de imprensa no continente.

- Depois de interferir no Judiciário venezuelano e de garrotear o Parlamento daquele país, mexendo na Constituição para se reeleger indefinidamente, ele (Chávez) quer agora agredir os países vizinhos - disse.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), enviou nota de repúdio ao embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya. A liderança do PSDB no Senado também divulgou nota.

Mercadante lembra moção contra tentativa de golpe

O vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Valter Pereira (PMDB-MS), disse que Chávez mostra traço típico de todos os ditadores: a intolerância a qualquer manifestação contrária.

Ao lamentar as declarações, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) lembrou da moção que o Congresso aprovou contra a tentativa de golpe de Estado contra o venezuelano, em 2002:

- Este é o mesmo Congresso que se posiciona agora contra o fechamento da RCTV, que, mesmo tendo apoiado a tentativa de golpe, não deveria ter sido fechada porque isso agride o estado de direito.

Alguns parlamentares da oposição, como o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) e o senador tucano Marconi Perillo (GO), responsabilizaram Lula pelas declarações de Chávez.

- Chávez valeu-se da conivência de seu companheiro Luiz Inácio Lula da Silva para atingir o Congresso. O presidente brasileiro declarou que não se pronunciaria sobre a violência de Chávez porque não queria que estrangeiros se intrometessem em assunto brasileiros. E agora? - disse Aleluia.