Título: Daniel Dantas elogia Mangabeira; PT tenta impedir nomeação
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/06/2007, O País, p. 10

Assessores dizem que Lula está indeciso em manter indicação; Alencar afirma que não é "padrinho" do filósofo.

BRASÍLIA. Com a situação indefinida no governo, o filósofo e professor de Harvard Roberto Mangabeira Unger passou a sofrer forte reação de setores do PT, que tentam reverter sua nomeação para ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo. A principal resistência é do ex-ministro Luiz Gushiken, que, de forma reservada, fez grandes restrições à indicação de Mangabeira. Segundo assessores do Planalto, até ontem o presidente Lula não havia decidido se manteria ou não a nomeação.

A situação é tão delicada que até mesmo o vice-presidente José Alencar passou a demonstrar constrangimento e tem dito que não é padrinho de Mangabeira. Segundo assessores, Alencar lembrou que só passou a ter relacionamento partidário com o filósofo quando os dois fundaram o PRB, em 2005. Até então, imaginava-se que Lula mantinha a nomeação por causa do vice. Na verdade, a indicação seria do publicitário João Santana.

Resistência maior por causa de ligação com Daniel Dantas

Indagado se ele desistirá da indicação, Alencar foi evasivo. Afirmou que a carta que o filósofo encaminhou a Lula atesta que ele abriu mão de uma ação contra a Brasil Telecom (BrT), embora ontem o processo ainda estivesse na Justiça americana. A direção da empresa diz que ele não retirou a ação.

- Tenho a carta para o presidente dizendo que não houve ação. Tenho de me basear em fatos - disse Alencar.

Interlocutores de Lula já falam que a maior resistência está no fato de o filósofo ser ligado ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Mangabeira fez consultorias para a BrT quando o Opportunity era gestor da empresa. Também prestou consultoria para o próprio banco. Na ocasião, o Opportunity estava em litígio com os fundos de pensão pela gestão da Brasil Telecom. O então ministro Gushiken apoiou os fundos de pensão contra Dantas. Há um temor velado de que, em algum momento, Mangabeira poderia repassar informações estratégicas do governo a Dantas.

Em 2005, o Opportunity foi destituído da administração da telefônica e o novo gestor cancelou o contrato com Mangabeira. Ontem, o banqueiro defendeu a nomeação:

- Seria uma pena desperdiçar um talento do quilate dele por causa de interesses privados. Não vejo nenhum conflito de interesses em ele exercer seu direito privado perante uma empresa privada.

Após ser revelado que Mangabeira move ação, em Massachusetts (EUA), contra a BrT, sabe-se também que a empresa lhe cobra explicações. Na contestação, a BrT diz que o filósofo cometeu negligência e atuou contra os interesses dos acionistas. A atual gestão da BrT também questiona na Justiça americana o uso inadequado de recursos para financiar despesas com viagens e hospedagem de Mangabeira no Brasil que não estavam relacionadas ao cumprimento das obrigações dele como "trustee" (espécie de curador para gerenciar as ações judiciais da BrT contra a Telecom Itália e os fundos de pensão).

Na ação, protocolada na Justiça de Massachusetts em 22 de maio, a empresa requer a prestação de contas de Mangabeira pois alega ausência de documentação. Na ação contra a BrT, ele diz ter direito a mais um ano de remuneração, entre abril de 2006 e março deste ano.