Título: A nova lista do bicho
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 02/06/2007, Rio, p. 15

Sobrinho de contraventor tinha relação de 12 políticos supostamente financiados pela máfia.

A Polícia Federal descobriu, ao apreender documentos em imóvel usado pela máfia do bicho e dos caça-níqueis, durante a Operação Hurricane, a 13 de abril, papéis que mostram supostas doações financeiras do esquema para 12 políticos do Rio de Janeiro, incluindo quatro candidatos ao governo do estado em 2002, entre os quais Benedita da Silva (na época, governadora) e Rosinha Garotinho.

Os papéis, segundo a PF informa em relatório anexado ao inquérito da Operação Furacão na 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, foram apreendidos em imóvel na Tijuca, usado "por Luciano Bola e Júlio Guimarães", e apontam "a realização de supostos pagamentos a pessoas que, à época, seriam candidatas a cargos eletivos".

Exames realizados por peritos do Instituto Nacional de Criminalística, a pedido dos policiais da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), confirmaram que a letra que aparece em parte da contabilidade apreendida pela PF é de Júlio Sobreira Guimarães. Para fazer os exames grafotécnicos, os peritos recolheram amostras da caligrafia de Guimarães.

O advogado Júlio Cesar Guimarães Sobreira é sobrinho do contraventor Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, ex-presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa). Os dois foram presos junto com outros bicheiros cariocas, durante a Operação Hurricane. Júlio seria o responsável pela liberação do dinheiro usado nos pagamentos de propinas a policiais e no financiamento de campanhas de políticos.

Mais favorecido não está identificado

A contabilidade, registrada em duas folhas de papel manuscritas, revela valores supostamente pagos a uma lista de políticos e policiais. Ao lado das abreviaturas de nomes, a PF colocou entre parênteses a identificação dos beneficiados. Entre eles, "A. Lins" (Álvaro Lins, na época chefe de Polícia Civil e hoje deputado estadual); "J. Quintal" (Josias Quintal, ex-secretário de Segurança e hoje empresário do ramo de segurança eletrônica e pré-candidato a prefeito de Santo Antônio de Pádua); "B. Rodrigues" (Bispo Rodrigues, ex-deputado federal); "Flávio Furtado" (delegado federal); "B. Silva" (Benedita da Silva, na época governadora e hoje secretária estadual de Desenvolvimento Social do Rio); "S. Amaral" (Solange Amaral, na época candidata ao governo estadual e hoje deputada federal); "JR Silveira" (identificado no relatório como "José" Roberto Silveira, mas que pode ser Jorge Roberto Silveira, candidato ao governo estadual na época).

Na lista, figuram também os nomes de "Conde" (Luiz Paulo Conde, ex-prefeito, candidato a vice na chapa de Rosinha na época, hoje secretário de Cultura), "Rosinha" (Rosinha Garotinho, na época candidata ao governo estadual); "D. Braz - André Luiz" (Domingos Brazão, deputado estadual, e André Luiz, ex-deputado federal, posteriormente cassado); "Eurico" (Eurico Miranda, na época deputado federal, que não se reelegeu); e "CH Mang." (Chiquinho da Mangueira, ex-secretário de Esportes e posteriormente eleito deputado estadual).

Rosinha, pela contabilidade, é agraciada com três doações, nos dias 8, 9 e 10 de fevereiro (provavelmente em 2002), no valor total de "1.600.00" (valor que, provavelmente, é de R$1,6 milhão), Benedita recebe uma doação, no dia 8, de "40.00" (provavelmente R$40 mil); Solange teria recebido "200.00" (em 8 e 9 de fevereiro), Jorge Roberto, "100.00".

Há doações cujos favorecidos não foram identificados no relatório. Entre eles está "JO/PAU", que é o mais favorecido: 2.500.00 (R$2,5 milhões), entre 11 de janeiro e 3 de fevereiro.