Título: Bingos: dinheiro para ONG do estado
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Fonte: O Globo, 02/06/2007, Rio, p. 16
"Doação voluntária" foi de R$1,5 milhão para projetos sociais de Rosinha.
Enquanto a polícia investigava as ligações da contravenção com o estado, O GLOBO revelou, em agosto do ano passado, que a Associação de Bingos do Estado do Rio (Aberj) havia feito em 2005 uma doação de R$1,5 milhão para a ONG ligada ao estado, Vida Obra Social, da ex-governadora Rosinha Garotinho.
O dinheiro teria sido pago em três parcelas, segundo os bingueiros, a pedido do governo estadual para amenizar os problemas de caixa enfrentados desde que os bingos voltaram a ser proibidos. Sem o dinheiro, a Loterj não tinha mais como sustentar projetos sociais do governo.
Negociação teria sido feita com presidente da Loterj
A boa vontade dos bingos, ao fazer as "doações voluntárias", como a associação chamou os repasses, tinha a ver com o fato de o ex-governador Anthony Garotinho ter autorizado, em 1999, através de decreto estadual, o funcionamento das casas de jogo. Na ocasião em que o jornal descobriu a existência dessas doações, a então governadora Rosinha Garotinho não quis se pronunciar. Mas apesar de não ter se manifestado, o governo confirmou ter recebido os repasses da Aberj. De acordo com os empresários do ramo de jogos, a negociação do valor foi feita com a então presidente da Loterj, Kelly Mattos. O presidente da Aberj, Paulo Ferreira Lino, foi um dos presos da Operação Furacão.
Este ano, a análise do conteúdo do pen drive (dispositivo portátil de armazenamento de dados) apreendido pela Polícia Federal com um dos contadores do contraventor Rogério Andrade revelou que a máfia dos caça-níqueis pagava, mensalmente, R$300 mil a uma mulher identificada como Madame. E ainda a um homem identificado como Príncipe. Delegacias e batalhões também recebiam dinheiro da contravenção. As informações constam de despacho da 4ª Vara Criminal Federal. Num documento, o delegado federal Victor César - um dos responsáveis pela Operação Gladiador - informou ter sido procurado pelo ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, que estaria interessado em obter informações sobre os dados armazenados no pen drive. Lins explicou que agiu por curiosidade e que nunca pedira dinheiro da contravenção para sua campanha eleitoral.