Título: Lobistas de empreiteiras fazem pressão contra CPI da Navalha
Autor: Camarotti, Gerson e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 03/06/2007, O País, p. 4

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: "Estão pressionando deputados e senadores".

Representantes de construtoras passaram a semana percorrendo Congresso.

BRASÍLIA. Mais de uma década depois do escândalo dos anões do Orçamento, a ação das empreiteiras voltou à cena com a Operação Navalha, que investiga irregularidades cometidas pela construtora Gautama. A investigação da Polícia Federal mostra que as empreiteiras estão mais atuantes do que nunca no Executivo e no Legislativo.

Os lobistas das construtoras passaram toda a semana passada percorrendo gabinetes de parlamentares defendendo uma flexibilização da Lei de Licitações. Mas, principalmente, manifestando sua veemente oposição a que seja instalada uma CPI que acabará fazendo empresas do setor se sentarem no banco dos réus, o que deixaria as construtoras em posição vulnerável.

- As empreiteiras estão pressionando deputados e senadores para que retirem o apoio à CPI. Elas vão acabar fazendo alguma bobagem, e a CPI vai acabar saindo - disse o deputado Rocha Loures (PMDB-PR).

Construtoras são doadoras de campanhas eleitorais

O grande poder das construtoras não é por acaso. Elas costumam fazer generosas contribuições para as campanhas eleitorais - não só para Presidência da República e governos estaduais, mas também para deputados e senadores. Um arrecadador de uma campanha presidencial relatou ao GLOBO, na semana passada, um encontro, durante a campanha de 2006, para pedir uma doação para uma das grandes empreiteiras do país:

"Nós ajudamos no que for necessário, mas, em contrapartida, queremos que vocês não afetem nossos negócios com uma estatal, em caso de vitória", disse o representante da empreiteira ao parlamentar.

Nesse caso, a sugestão da construtora era de uma contribuição pelo caixa dois. Mas, mesmo em doações oficiais, os gastos são milionários. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, a OAS doou R$7,3 milhões para candidatos. A Camargo Corrêa ajudou nas campanhas com R$8,3 milhões. O registro oficial da Norberto Odebrecht é de R$R$1,4 milhão, e o da Mendes Júnior, de R$553 mil.

Mesmo assim, vários desses números são ainda maiores, já que algumas construtoras usam outras empresas do grupo para doações. É o caso da Andrade Gutierrez e da Queiroz Galvão, que aparecem com doações de R$2 mil e R$1 mil, respectivamente. Mas, quando se verificam doações de empresas do grupo, os valores são bem maiores. A Queiroz Galvão, por exemplo, usou o banco BGN para doar R$402 mil e a Companhia Siderúrgica Vale do Pindaré, que contribuiu com R$300 mil.

As maiores empresas do ramo concentram sua atividade de lobby junto às empresas estatais, responsáveis pelas grandes obras do setor de petróleo, energia hidrelétrica e rodovias, já que as maiores obras do país são tocadas pela Petrobras, Eletrobrás e Infraero. As empresas de porte médio tocam obras de menor porte em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos de cidades menores, além de buscarem obras de interesse de governos estaduais e capitais.

A Gautama e o empresário Zuleido Veras estão na vitrine. Mas os parlamentares que freqüentam a Comissão Mista de Orçamento (CMO) confirmam que a atuação de lobistas das empreiteiras também é intensa no Congresso em defesa de obras. Para o líder do PR, Luciano Castro (RR), deveria haver algum tipo de regulamentação para a ação dos lobistas. Ele conta que, em período de votação do Orçamento, o constrangimento é enorme, pois representantes das empreiteiras acampam no Congresso e tomam conta da comissão como se fossem assessores.

- Se não tivesse corrupção dentro do governo, não teria aqui no Congresso - critica Luciano Castro.

"Congresso não melhora o Orçamento. Só piora"

Já o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) diz que é hora de acabar com a Comissão de Orçamento, passando suas atribuições às diversas comissões permanentes da Câmara e do Senado. O Orçamento seria feito por uma comissão de sistematização. Ele chegou a apresentar uma proposta nesse sentido.

- O Congresso não melhora o Orçamento. Só piora. É pressão para todo lado - constata Sérgio Guerra.

Para defender seus interesses, essas empresas têm escritórios em Brasília, com dezenas de funcionários, cuja principal função é garantir que os recursos do Orçamento sejam liberados para as suas obras e tentar conseguir melhores condições para participar das licitações.

Procuradas pelo GLOBO na semana passada para falar de suas relações com a área governamental e de suas estruturas em Brasília, as construtoras OAS, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Norberto Odebrecht e Mendes Júnior não quiseram responder sobre o assunto.