Título: Depois da crise com Renan, governo reforça empenho para barrar CPI
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 03/06/2007, O País, p. 8

Governistas teriam lista de deputados para pressionar a retirar assinatura.

BRASÍLIA. Embora estejam faltando apenas seis assinaturas na Câmara para que a CPI da Navalha possa ser criada, a crise envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em denúncias de que teria tido despesas pagas pelo lobista de uma empreiteira ajudou a reforçar o empenho do governo Lula para impedir a abertura de uma nova investigação no Congresso. Como Renan seria um dos alvos principais dessa nova CPI, o governo não pretende se arriscar em ver a sua já apertada maioria no Senado se esfacelar.

Por isso, os governistas já teriam elaborado uma lista com os nomes dos parlamentares que pretendem pressionar para que retirem suas assinaturas do requerimento da CPI. O primeiro que arrumou uma desculpa para recuar foi o deputado Silvio Costa (PMN-PE), que arrumou uma briga com o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), na semana retrasada. Mas os rumores na Câmara são de que ele teria seguido uma ordem do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.

- O governo vai fazer de tudo para que a CPI não saia. Não tenho a menor dúvida disso - prevê o líder do Democratas no Senado, Agripino Maia (RN).

Mobilização em busca de últimas assinaturas

Cientes da estratégia do governo, os parlamentares que ficaram incumbidos de recolher as assinaturas que faltam para garantir a criação da CPI da Navalha vão tentar mobilizar a opinião pública no fim de semana, na esperança de que os eleitores possam pressionar seus representantes na Câmara a apoiar a investigação.

O líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), já está com a lista dos parlamentares da bancada do Rio que ainda não assinaram o requerimento de criação da CPI, e pretende divulgar o telefone da Ouvidoria da Câmara para que populares mandem seus recados para os deputados cariocas. De qualquer forma, ele considera essencial garantir um número de assinaturas superior ao mínimo necessário - 27 no Senado e 171 na Câmara -, como precaução àqueles recuos de última hora de alguns parlamentares.

- É preciso garantir uma margem de folga para não sermos pegos de surpresa - alega Alencar.

A postura do PT e do PCdoB na Câmara, contra a CPI da Navalha, tem dificultado a coleta de assinaturas para o requerimento. Até agora apenas dois deputados petistas contrariaram a orientação do líder da bancada, Luiz Sérgio (RJ). Nenhum comunista até agora assinou o documento. Apesar disso, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) comemora o fato de ter conseguido recolher mais 20 assinaturas ao longo da última semana. Sua expectativa é de que, na próxima, o número mínimo de assinaturas seja atingido.

"É bom nos preparamos para grandes emoções"

O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), admite que será difícil impedir a criação dessa nova CPI.

- Quando a pasta sai do tubo, não dá para colocar de volta - afirmou.

Se essa CPI sair, Casagrande prevê muita dor de cabeça para o governo Lula:

- Isso porque não tem CPI sob controle. Ela passa a ter vida própria. Se for realmente instalada, é bom nos preparamos para grandes emoções. Isso vai tumultuar os trabalhos no Congresso e no governo.