Título: Navalha: relatório mostra caminhos da propina
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 03/06/2007, O País, p. 10

Ministra do STJ recebeu informações detalhadas do esquema

BRASÍLIA. O relatório da Operação Navalha, que levou à cadeia 46 pessoas acusadas de envolvimento no esquema do empresário Zuleido Veras, é detalhado em relação à busca de provas. O documento, enviado a ministra Eliana Calmon, relatora do caso no STJ, contém cópias de passagens, recortes de Diário Oficial da União, fotos, filmetes e, claro, transcrições de conversas que, com riqueza de detalhes, registram a movimentação dos principais integrantes da organização. São documentos que vão da cópia de um edital de licitação de uma obra pública até o pagamento de propina.

Um dos trechos do relatório descreve o caminho de uma propina de R$200 mil que Zuleido teria pago ao prefeito de Sinop, Nilson Leitão (PSDB), um dos acusados de envolvimento no esquema. Em 21 de março deste ano, um grupo de policiais seguiu Florêncio Vieira, um dos pagadores da organização de Zuleido, a uma agência da Caixa Econômica em Salvador. Vieira sacou R$437 mil e viajou para Brasília. Num determinado momento da campana, os policiais o perderam de vista, mas os policiais que faziam a escuta telefônica do caso estavam alertas.

"Guardião" cruza conversas gravadas com documentos

"No trajeto (da Caixa até o aeroporto), a equipe de áudio informou que Florêncio já estava no aeroporto (Luiz Eduardo Magalhães)", contam os policias. O relatório contém fotos de Vieira segurando com as duas mãos uma pasta preta. Pouco mais de duas horas depois, quando chegou a Brasília, Vieira foi seguido por outra equipe de policiais. Segundo o relatório, parte do dinheiro, R$200 mil, foi repassada a Jair Pessini, ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de Sinop. À noite, Pessini embarcou no mesmo avião que Leitão, para Mato Grosso. Ali, o dinheiro teria chegado ao prefeito.

A escuta foi facilitada pelo Guardião, programa de computador que permite o agrupamento e a sistematização de conversas gravadas com documentos, fotos e outros itens recolhidos ao longo de meses ou anos de investigação. Mas, para os policiais, a tecnologia não resolve todos os problemas.

- O que define o resultado do nosso trabalho é a vontade de combater a corrupção, a disposição para o trabalho e a criatividade de cada policial - diz um dos chefes da Diretoria de Inteligência Policial (DIP).

Os policiais do setor têm rotina exaustiva. Um deles disse ao GLOBO que teve que ouvir nada menos que 700 conversas num único dia. Outro diz que o mais difícil é entender o padrão da linguagem e decifrar os códigos usados pelos investigados para combinar fraudes e pagamentos de propina.