Título: Operações da PF sofisticam investigações
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 03/06/2007, O País, p. 10

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Apuração da Diretoria de Inteligência Policial produziu verdadeiros catálogos multimídia.

Programas de computador, verbas secretas e manobras hollywoodianas ajudam a desvendar crimes de corrupção.

BRASÍLIA. Os relatórios das operações Navalha e Hurricane, que expuseram relações nada republicanas entre políticos, empreiteiros, magistrados e bingos, demonstram também que a máquina de combate da Polícia Federal está azeitada. Os documentos, verdadeiros catálogos multimídias anticorrupção, mostram que os policiais estão recorrendo a sofisticados métodos de investigação que vão do uso do Guardião, um programa de computador que facilita a seleção e o agrupamento de escutas telefônicas, à chamada "exploração de local", a mais nova arma secreta da Diretoria de Inteligência Policial (DIP).

Rascunho na mesa de advogado foi fotografado

A "exploração de local" foi decisiva para o desfecho da Operação Hurricane (furacão, em inglês), que resultou no afastamento do ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça, levou à cadeia três magistrados e tirou de circulação a cúpula do jogo do bicho do Rio. Em novembro passado, num dos momentos mais delicados da investigação, policiais entraram no escritório do advogado Virgílio Medina, em Brasília, e fotografaram uma folha de papel em que o irmão do ministro Paulo Medina rascunhou os valores da propina de R$1 milhão que seria paga em troca da liberação de caças-níqueis no Rio.

Policiais encarregados da escuta do advogado perceberam que ele fazia anotações num papel, enquanto conversava em código por telefone com Jaime Garcia Dias, um dos representantes de donos de bingos na negociata. Momentos depois, os policiais pediram e o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a "exploração de local". Na calada da noite, policiais entraram no escritório, fotografaram o rascunho e saíram sem deixar marcas. O resultado foi impactante. No relatório final, a conversa em código associada à foto do rascunho não deixa dúvida sobre os valores da propina, algo entre R$800 mil e R$1,5 milhão.

Segundo relato dos policias envolvidos na missão, manobra típica dos filmes de espionagem de Hollywood, nos papéis fotografados "se acham apostos os valores R$1.500.000,00 , R$1.000.000,00, R$800.000,00, com menções a porcentagens (20% e 8%); e, no verso, os números 9.000 e 1.000, e 10 empresas". Ali estava, para a polícia, o vai-e-vem da negociação da propina que, conforme a investigação, teria sido paga ao ministro Paulo Medina. Os policiais não revelam os meios que utilizaram para entrar no escritório de Medina sem deixar rastro. Mas sabe-se que a DIP dispõe de uma verba secreta, que permite desde o aluguel de imóveis em locais estratégicos até a compra de qualquer equipamento que facilite a movimentação dos policiais em missões perigosas.

- Os métodos são definidos de acordo com cada local. Tanto faz se é um prédio público ou privado - conta um dos investigadores.