Título: Lula volta a defender Senado de ataque de Chávez
Autor: Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 04/06/2007, O País, p. 5

Assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia diz que não há cerceamento à liberdade de imprensa na Venezuela.

NOVA DÉLHI. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem esperar que a polêmica criada entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o Congresso brasileiro seja resolvida logo e que não atrapalhe as relações entre os dois países. Lula aproveitou para defender o Senado - que, ao pedir a Chávez, na semana passada, que a licença da emissora RCTV, a mais popular daquele país, fosse renovada pelo líder venezuelano, foi chamado por Chávez de "papagaio dos Estados Unidos".

Ao justificar o comentário que fez sobre o Senado brasileiro, Chávez disse anteontem que apenas havia respondido a uma "grosseria". Para Lula, contudo, não houve grosseria. Inadequado, na avaliação do governo brasileiro, foi Chávez.

- Eu não vi nada disso ontem (nos jornais). Eu fiz a resposta ontem e vamos ver o que vai acontecer. Eu acho que o Congresso não foi grosseiro, porque a nota do Congresso pede a compreensão apenas - disse Lula, reafirmando que não irá procurar Chávez para tratar desse assunto.

- Não (vou conversar com o Chávez). Deixa eu voltar ao Brasil. Há muita coisa que pode ser feita (para não complicar as relações) - afirmou.

Marco Aurélio: "Ele (Chávez) não fez nada de ilegal"

O diálogo tem sido mantido pelos canais diplomáticos. O assessor especial do presidente Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, explicou que a orientação no Planalto é não alimentar a polêmica com Hugo Chávez:

- A expressão dele (Chávez) foi num tom inadequado. E o pedido do Senado não foi ofensivo, mas não estamos interessados em esquentar esse assunto.

Mas, em seguida, Marco Aurélio afirmou não acreditar que houve cerceamento à liberdade de expressão na Venezuela, nem possibilidade de atentado à democracia:

- Neste particular (RCTV), não consideramos que tenham sido violadas questões democráticas. Podemos contestar a decisão do ponto de vista político, mas ele não fez nada de ilegal. Até agora não vi nenhum tipo de restrição à liberdade de imprensa - afirmou.

- Eu andei muitas vezes na Venezuela e em raros países eu vi a imprensa falar do presidente da República o que a imprensa venezuelana falou. Não estou dizendo que a imprensa tenha que ser punida por isso, mas não me venha dizer que não há liberdade de imprensa.

Marco Aurélio citou exemplos do que diz ser a garantia de que havia liberdade de imprensa:

- Eu vi na imprensa coisas do tipo: "Venham participar amanhã de manifestação contra o ladrão Chávez". Durante uma novela, era exibido na tirinha embaixo um chamado para que todos os venezuelanos participassem da manifestação.

Sobre qual deveria ser o posicionamento da Organização dos Estados Americanos a respeito do risco de uma escalada autoritária do governo Chávez, o assessor de Lula disse:

- Espero que não venham fazer agora as bobagens que fizeram no início dos anos 60, quando a OEA se partidarizou.

Marco Aurélio fez uma referência indireta à decisão da assembléia da OEA no início da década de 1960 que, por pressão dos Estados Unidos, suspendeu Cuba da organização. A decisão foi considerada posteriormente um erro histórico, pois jogou Cuba nas mãos da antiga União Soviética.

- Agora, temos na presidência da OEA um homem sensato (o chileno José Insulza), que foi eleito com nosso voto, com o voto da Venezuela. Acho que será dado o tratamento adequado que o assunto merece.