Título: Lula e Petrobras selam acordo na Índia
Autor: Magalhães-Ruether, Graça e Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 04/06/2007, Economia, p. 17

Comércio bilateral entre os países poderá saltar para US$10 bilhões até 2010.

NOVA DÉLHI. Um acordo entre a Petrobras e a petrolífera indiana ONGC, que será assinado hoje em Nova Délhi durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Índia, será o carro-chefe da nova fase da cooperação entre os dois países e funcionará também como maior atrativo para outros negócios entre indústrias brasileiras e indianas. Pelo acordo, a Petrobras vai explorar três blocos de petróleo na Índia e a ONGC fará o mesmo em três diferentes locais do Brasil, sendo que um deles deve ser na Bacia de Campos, que fica no Norte Fluminense.

Apesar das dificuldades burocráticas impostas pelo ainda fechado mercado indiano, a meta estabelecida pelos dirigentes do Brasil e da Índia é quadruplicar, até 2010, o volume atual de comércio bilateral, passando de US$2,3 bilhões para US$10 bilhões. Otimista, o presidente Lula considera que os dois países têm todas as condições de alcançar essa meta. Perguntado se não é ambiciosa demais para se cumprir em quatro anos, respondeu:

- Não. Se nós levarmos em conta o tamanho do Brasil e o da Índia, e o potencial de crescimento dos dois países, eu penso que é uma meta possível de ser alcançada. Sobretudo se nós despertarmos, tanto nos empresários indianos, quanto nos brasileiros, a idéia de que a distância não pode ser um problema entre Brasil e Índia. Temos potencial, temos dinâmica econômica e, portanto, penso que depende muito dessa relação que estamos construindo com a Índia - disse o presidente ontem, em Nova Délhi.

Cem empresários brasileiros estão na Índia

Confiando no discurso do governo, mais de cem empresários e executivos brasileiros estão na Índia para lançar hoje, com a presença de Lula e autoridades indianas, o Fórum de CEOs (Chieff Executive Officer, principal executivo) Brasil-Índia. Trata-se de um grupo permanente, formado por dirigentes e executivos de grandes empresas dos dois países para discutir e identificar oportunidades de negócios. Estão de olho num mercado de mais de 1,1 bilhão de pessoas e atraídos pelo plano do governo indiano de investir US$350 bilhões em infra-estrutura nos próximos anos, para sustentar o crescimento econômico de 10% ao ano.

Do lado brasileiro, o Fórum será dirigido pelo presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Do lado indiano, estará à frente o dirigente do maior conglomerado empresarial do país, o Grupo Tata. Segundo Gabrielli, o acordo com a ONGC, além de ser o primeiro negócio da estatal na Índia, reforça a política do governo de ampliar a presença econômica do Brasil na Ásia.

Com o Grupo Tata, que reúne mais de 90 empresas dos mais variados setores, a brasileira Marcopolo fechou em 2006 uma joint-venture para a construção de uma fábrica de ônibus na Índia. A unidade, que começa a produzir no fim deste ano, deverá fabricar em 2013 cerca de 25 mil unidades por ano.

- É um volume maior do que o que fabricamos hoje no Brasil, México e Colômbia - disse o vice-presidente da Marcopolo, José Fernandes Martins, em Nova Délhi.

A operação da Marcopolo é uma mostra de que as parcerias prometem ser bem-sucedidas, mas exigem muita negociação: o acordo só foi assinado depois de três anos de intensas discussões. Mas o recado de Lula aos empresários brasileiros, hoje, será otimista:

- Nós já evoluímos muito, já dobramos as exportações nos últimos anos e é possível dobrar ainda mais. Estou convencido de que podemos aumentar não apenas as exportações, mas as parcerias que podem ser feitas entre as indústrias indianas e brasileiras.