Título: G-8 sob a sombra de mil feridos
Autor: Magalhães-Ruether, Graça e Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 04/06/2007, Economia, p. 17
Alemanha reforça segurança da cúpula, após violentas manifestações antiglobalização.
Aatmosfera em torno da reunião de cúpula do G-8 (grupo que reúne as sete nações mais industrializadas do mundo e a Rússia), que terá início depois de amanhã na Alemanha, foi contaminada pelo gás lacrimogêneo usado pela polícia para dispersar manifestantes antiglobalização em Rostock, no último sábado. O violento confronto entre a tropa de choque e ativistas de diversas linhagens ideológicas - entre ambientalistas, anarquistas e socialistas - provocou um dos mais sangrentos protestos de rua na Alemanha desde os anos 80, com cerca de mil feridos, 50 deles em estado grave. O radicalismo de manifestantes do chamado bloco negro (em referência às roupas e máscaras que usam), e a força excessiva da polícia geraram críticas e levaram as autoridades alemãs a reforçar a segurança em Heiligendamm, cidade onde os chefes de Estado do G-8 e representantes de países emergentes se reunirão para discutir temas como aquecimento global - assunto que promete rachar EUA e União Européia (UE) -; retomada das negociações de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC); ajuda a países africanos; entre outros.
A manifestação do último sábado começou pacificamente, mas terminou com 420 policiais e 580 manifestantes feridos, sobretudo com fraturas e ferimentos causados por pedradas. Ontem, o resultado do confronto era visível no Centro de Rostock, com carcaças de carros incendiados e lojas com as vidraças destruídas. A chanceler alemã e titular da presidência rotativa do G-8, Angela Merkel, condenou a violência nas ruas de Rostock.
- Nada justifica a violência - disse ela, ontem, na televisão alemã.
A Attac, uma das ONGs organizadoras dos protestos de Rostock, disse ontem que vai excluir das próximas manifestações os ativistas do bloco negro.
- Queremos protestar pacificamente - disse Peter Wahl, da Attac alemã, garantindo, porém, que os protestos continuarão.
Brasil defenderá fim de subsídios agrícolas
Tim Laumeyer, do bloco negro, disse que a violência foi uma reação à truculência da polícia. Parlamentares alemães, por sua vez, protestaram contra o uso excessivo de força pela tropa de choque e, segundo o jornal "Tagesspiegel", o chefe de polícia de Rostock foi substituído por seu colega de Berlim, que teria mais experiência em lidar com protestos.
Para impedir manifestantes em Heiligendamm, as autoridades fecharam ontem a estrada de acesso à cidade. Também construíram um muro de 11,6 quilômetros para isolar a sede da cúpula. A polícia, que terá 16 mil agentes, estima que dez mil manifestantes tentarão furar o bloqueio.
O Brasil, que participará da reunião do G-8 com outras quatro nações emergentes - México, Índia, China e África do Sul -, defenderá o fim do protecionismo dos países ricos. Em visita à Índia, onde se encontra hoje com o primeiro-ministro Manmohan Singh para fechar uma série de acordos, o presidente Lula disse ontem que os dois países têm posições afinadas, que levarão à reunião do G-8. Lula ressaltou as convergências entre Brasil e Índia nas discussões da OMC sobre a redução de subsídios agrícolas e maior acesso dos países em desenvolvimento aos mercados dos países ricos:
- A Índia é nossa parceira estratégica nas discussões da OMC.
Além do comércio, Lula discutirá com Singh a política brasileira de biocombustível.
Em Wismar, cidade próxima a Rostock, 74 adolescentes dos países do G-8 e de diversos países emergentes iniciaram ontem a "cúpula da juventude", um evento promovido pelo Unicef que tem por objetivo a elaboração das metas da juventude para o G-8. Uma das participantes é a brasileira Fernanda Winter Oliveira, de 17 anos:
- Pediria ao G-8 que nos ouvissem.
(*) Correspondente, (**) enviada especial, com agências internacionais