Título: Relator de CPI do Senado ofende colega da Câmara
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/06/2007, O País, p. 12

Demóstenes chama Marco Maia de "Pedro Bó". Os dois pedem análise técnica do controle aéreo.

BRASÍLIA. Mesmo com constantes brigas, os relatores das CPIs do Apagão Aéreo na Câmara e no Senado defenderam ontem uma análise técnica do sistema de controle do espaço aéreo do país. No Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que é preciso a análise de um técnico independente. Na Câmara, Marco Maia (PT-RS) afirmou que é preciso diligências nos centros de controle.

Apesar do consenso, os dois relatores continuam trocando farpas. Ontem, ao ser indagado sobre as críticas feitas por Marco Maia, de que foi açodado ao condenar os controladores pelo acidente com o boeing da Gol, Demóstenes afirmou:

- Ele é um Pedro Bó (numa referência ao personagem do humorista Chico Anísio).

Controladores de vôo e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, deram ontem declarações contraditórias sobre a segurança do sistema de vôo brasileiro nas duas CPIs do Apagão Aéreo. Enquanto Saito garantia que o sistema é seguro, o controlador de vôo Lucivando de Alencar, um dos que trabalhavam no dia do acidente da Gol, reafirmava que ele induz a erros e não dá segurança aos controladores.

Relator da CPI da Câmara culpa pilotos do Legacy

O comandante evitou responsabilizar diretamente pelo acidente com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas em setembro passado, os quatro controladores que monitoraram o vôo do Legacy. Mas disse que, naquele dia, não houve falha do sistema.

- Garanto que o nosso sistema é seguro e atende perfeitamente nossas necessidades. Naquele dia (do acidente), eles tinham todas as informações, e os fatos, até hoje, mostram que não houve problema de comunicação. Falha humana é inerente ao ser humano - afirmou Saito à CPI do Senado.

- Existem falhas no sistema, ele faz modificações sem a interferência dos controladores. Nós, controladores, não nos sentimos seguros. O sistema induz a erros - contradisse Lucivando à CPI da Câmara.

Já Marco Maia culpou os pilotos do Legacy pela tragédia:

- Se eu tivesse que apontar um culpado pelo acidente, eu apontaria os pilotos.

Antes de a sessão ser transformada em reservada, com o plenário cheio de controladores, Lucivando leu manifesto que denuncia os problemas no sistema aéreo, reclama de estarem sendo tratados como criminosos e pede julgamento justo. Também em sessão reservada, a CPI da Câmara ouviu o controlador Jomarcelo Fernandes, denunciado por crime doloso (intencional) pelo Ministério Público. Os dois negaram ter falhado. Cerca de 20 controladores protestaram contra a denúncia contra Jomarcelo. Usavam uma placa no pescoço com o nome dele.

- Poderia ter acontecido com qualquer um de nós - justificou o controlador de Brasília, Carlos Silveira.

Comandante nega existência de pontos cegos

Na CPI do Senado, o comandante da Aeronáutica negou a existência de pontos cegos no controle aéreo brasileiro, admitiu falhas eventuais na comunicação entre torres e aeronaves, mas afirmou não ser nada que comprometa a segurança do sistema. Saito disse que os controladores militares que paralisaram suas atividades em março, em motim, serão punidos. O comandante aproveitou a CPI para condenar a campanha pela desmilitarização do controle aéreo:

- Quem não quiser ser militar, que peça demissão, mas não venha influenciar outros companheiros. Esse movimento de desmilitarização atrapalhou muito a condução dessa crise aérea. Se não formos rigorosos com a hierarquia e a disciplina, não vai haver Forças Armadas.

Saito disse que Lula lhe deu autoridade para arquivar o projeto de desmilitarização. O sistema continuará sob coordenação da FAB e compartilhado, servindo às aeronaves civis e militares e com controladores civis e militares.

- Somos profissionais da guerra. Com base na hierarquia e disciplina tomamos decisões - afirmou.