Título: PF: Vavá combinou encontro com chefe da máfia
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 8

MAIS UM ESCÂNDALO: "Niltão sempre foi da coligação (do PT), a gente se encontrava em comícios", diz Edison Inácio.

Polícia monitorou telefonemas entre o irmão de Lula, indiciado por tráfico de influência, e Nilton Cezar Servo.

SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP). Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, combinou um encontro com o ex-deputado Nilton Cezar Servo, acusado pela Polícia Federal de ser o chefe da máfia dos caca-níqueis desmantelada pela Operação Xeque-Mate. Os telefonemas em que os dois combinaram o encontro foram monitorados pela Polícia Federal. Vavá foi indiciado pela PF por suposto envolvimento nos crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio.

- Pela informação que eu tenho, conversando com meu pai, o motivo (do indiciamento) é uma ligação do Niltão (Nilton Cezar Servo) para ele, e uma ligação dele retornando para o Niltão. Eles combinaram um encontro em São Paulo, mas não sei dizer se isso chegou a acontecer - disse ontem o filho de Vavá, Edison Inácio da Silva.

Uma amizade de dez anos

Vavá e Nilton Cezar Servo são amigos há cerca de dez anos. Eles se conheceram em eventos políticos do PT por intermédio de Dario Morelli Filho, amigo do presidente Lula e de sua família há muitos anos e preso anteontem pela PF.

- O Niltão sempre foi da coligação (do PT), e a gente se encontrava em comícios, festas eventos. Era uma amizade - disse Edison, que foi candidato a vereador pelo PT de São Bernardo em 2004, mas não conseguiu se eleger.

De acordo com o advogado de Vavá, Benedicto de Toloza Filho, Dario Morelli Filho, Nilton Cezar Servo e o irmão de Lula freqüentavam a Assembléia Legislativa de São Paulo.

- Vavá era funcionário da prefeitura (de São Bernardo), membro do diretório do PT e do Sindicato dos Servidores e, por isso, vivia na Assembléia. Dario trabalhava lá e o Nilton ia à Assembléia quando estava em São Paulo - afirmou o advogado do irmão de Lula.

De acordo com o filho de Vavá, foi a relação de amizade que motivou os telefonemas e o encontro. Vavá se recuperava de duas cirurgias de varizes realizadas no ano passado. Os telefonemas teriam sido há cerca de quatro meses. Depois de recolherem documentos na casa de Vavá, os policiais federais tomaram um depoimento informal do irmão de Lula por mais de duas horas no interior da casa de Vavá. Durante a conversa, mostraram o áudio com a gravação das conversas entre ele e Nilton, nas quais os dois combinam os encontros.

Apreensão de currículos

Na casa de Vavá foram apreendidos três folhas de papel, segundo Edison. Duas delas eram currículos de pessoas que recorrem à família de Lula para pedirem empregos. O terceiro era de um eleitor petista que também pedia um emprego ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

- Não era nada demais, tanto que os papéis estavam aqui em casa. Eu sou amigo do Mercadante - disse Edison.

O senador disse, por meio de sua assessoria de imprensa, desconhecer o pedido e nunca ter recebido este tipo de papel de Vavá.

Segundo Edison, os pedidos de emprego são geralmente encaminhados a bancos de currículos da região.

Se a relação com Nilton Servo era de amizade, Dario Morelli era considerado quase um parente por Vavá. Os dois se conhecem há décadas, costumavam conversar quase diariamente, freqüentam as casas um do outro. Edison chegou a morar no mesmo condomínio de Dario por mais de seis anos.

- Eu morava na casa 10, e ele, na 9 - disse.

Vavá passou o dia todo em sua modesta casa, no bairro Paulicéia, em São Bernardo do Campo. Segundo parentes, o irmão de Lula está tranqüilo. Ontem, a família contratou um advogado para acompanhar o caso em Campo Grande (MS) e esperam ter acesso aos autos do processo ainda hoje.

O advogado Tolosa rejeitou a possibilidade de Vavá ter feito tráfico de influência em favor de Nilton ou Dario. Dizendo desconhecer até mesmo os telefonemas entre Vavá e o ex-deputado, ele disse acreditar que a ação da polícia se deve a excesso de zelo.

- Será que ele não foi indiciado só por causa do sobrenome? E se depois alguém disser que todos foram indiciados, menos o irmão do presidente? - perguntou Tolosa.

Segundo o advogado, o fato de o juiz da 5ª Vara Federal de Campo Grande, Dalton Conrado, ter indeferido o pedido de prisão de Vavá é um indício de inocência. De acordo com o advogado, o inquérito no qual Vavá era investigado por suposto tráfico de influência em 2005 foi arquivado pelo Ministério Público Federal por falta de provas.