Título: FH: São muitos casos e o povo fica atônito
Autor: Vasconcelos, Adriana e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 10

"Temos que alterar as condições que facilitam transgressão".

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem uma reforma política mais profunda e mudanças na forma como é feito o Orçamento da União, "origem, há muitos anos, de prevaricação e corrupção". Fernando Henrique defendeu as mudanças ao ser perguntado sobre o suposto envolvimento do irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, na máfia dos caça-níqueis, investigado na Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal.

- Como líder político, não cabe a mim julgar atos individuais. O que temos que fazer é alterar as condições que facilitam a transgressão - disse Fernando Henrique.

O ex-presidente disse que não iria especular sobre a operação da PF na casa de Vavá, onde foi cumprido mandado de busca e apreensão na manhã da última segunda-feira. Mas observou que, se houve ordem da Justiça, a PF agiu dentro da lei.

- Não acho correto fazer especulações sobre o irmão do presidente da República. Se houver erro, é a lei que tem que apurar. É um momento difícil do Brasil, porque são muitos casos e a população fica atônita. Se existe uma coisa errada, cumpra-se a lei, sem exageros, sem arbitrariedades. Se a Justiça autorizou, deve ter algum elemento para autorizar. A polícia foi lá e vamos ver do que se trata.

"Está na hora de uma reforma política profunda"

Fernando Henrique afirmou que só com mudanças na lei será possível combater e punir denúncias de corrupção que envolvam congressistas e integrantes do governo.

- Tem que mudar a legislação eleitoral. Está na hora de uma reforma política mais profunda. É preciso mudar também a forma como se elabora o Orçamento. Temos que aproveitar esse momento para tentar corrigir esses desvios que são graves para o país. Essa é a responsabilidade política de todos nós - afirmou, após participar da abertura do segundo dia do seminário internacional sobre etanol, realizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O ex-presidente fez ainda críticas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo, que chamou de uma espécie de novo Fome Zero. Segundo ele, o PAC estaria retomando o que já fora feito em seu governo.

- O PAC, que me parece uma espécie de novo Fome Zero, quer dizer, muito barulho, mas em cima do que já havia. Eles estão retomando o que já tínhamos feito, ou seja, o processo de gerenciamento dos projetos prioritários. Perderam quatro anos - disse, afirmando que não torce contra o Brasil: - Tomara que ganhe, porque se não quem perde é o povo brasileiro.