Título: Congresso reage com cautela ao indiciamento
Autor: Vasconcelos, Adriana e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 10

MAIS UM ESCÂNDALO: José Alencar, presidente em exercício, defende Vavá e diz que PF continuará investigando.

Oposição pede apuração do caso, mas não ataca Lula por envolvimento do irmão; aliados temem acirramento.

BRASÍLIA. O indiciamento de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela Operação Xeque-Mate da Polícia Federal, foi recebido com cautela e constrangimento no Congresso. Embora o DEM considere "preocupante" que um membro da família do presidente esteja sob investigação, não houve ataques contundentes da oposição. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que o envolvimento de Vavá é um atrativo para a oposição e que isso pode acirrar a disputa política.

Ontem, líderes se reuniram no Palácio do Planalto com o ministro de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, para discutir como impedir que o assunto contamine o Congresso. O presidente interino, José Alencar, defendeu Vavá.

- Eu conheço o Vavá. Sinceramente, não acredito que ele esteja envolvido em coisas desse tipo. Agora, é claro que o presidente faz questão de que cada brasileiro tenha, absolutamente, o mesmo tratamento. Daí a razão pela qual a força da Polícia Federal de investigar é mantida, porque é preciso que haja no Brasil o fim dessas coisas que desrespeitam a lei, porque fora da lei não há salvação.

Parte da oposição na Câmara, capitaneada pelo DEM, quer apuração rigorosa do caso.

- O que preocupa é que a primeira-família esteja sendo investigada - disse o líder, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Chinaglia condenou as declarações de Lorenzoni.

- É preciso ter respeito à figura do presidente da República. Não acho prudente generalizar - disse. - Não sei nem se o Vavá é filiado ao PT. Mas é previsível que haja disputa política em torno do tema e, dependendo do tamanho do envolvimento, será explorado não apenas jornalisticamente, como também pela oposição.

Entre aliados, a ordem é tentar demonstrar que a PF tem agido "republicanamente".

- A PF tem que continuar agindo republicanamente. A investigação vai mostrar se ele tem ou não envolvimento de fato. Se tiver, tem que ser punido, não interessa se é parente do presidente da República ou de quem quer que seja. É o republicanismo máximo - disse o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

No Senado, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), elevou o tom das críticas.

- Se havia suspeita de Lula beneficiar o irmão em tráfico de influência, o presidente não pode ser o chefe da Polícia Federal - disse. - Nunca vi nada tão deplorável no momento político e na democracia brasileira.

Jefferson Péres (PDT-AM), crítico do governo, preferiu parabenizar a PF:

- É um sofrimento ter um parente envolvido numa situação dessas. Espero que se aprofundem as investigações. Isso deixa claro que a PF não vai poupar ninguém, nem mesmo os mais próximos ao presidente da República. Nota 10 para a PF.