Título: Presidente da Embraer nega falhas no Legacy
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 13

Deputados reagem a críticas de Demóstenes a relator da CPI do Apagão Aéreo na Câmara.

BRASÍLIA. O diretor-presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse ontem em depoimento na CPI do Apagão Aéreo da Câmara que não houve falhas no equipamento do jato Legacy que se envolveu num acidente com um avião da Gol em setembro do ano passado, matando 154 pessoas. Curado disse ser "altamente improvável" que o transponder do Legacy - aparelho anticolisões - tenha sido desligado acidentalmente. Dessa forma, o presidente da Embraer que fabrica o Legacy, contesta relatório de autoridades americanas de que havia indícios de que o transponder fora desligado involuntariamente pelos pilotos americanos.

Curado disse que aviões de grande porte, inclusive o Legacy, possuem um segundo transponder para o caso de o primeiro apresentar defeito. Segundo ele, as investigações da Polícia Federal não indicaram falhas de equipamento e as apurações da Aeronáutica apontam na mesma direção.

- É altamente improvável o transponder ser desligado involuntariamente. Você tem que apertar o botão duas vezes, e não é uma coisa que se faça por um esbarrão. Temos convicção de que não houve falha no equipamento - disse Curado.

Ele informou que o plano de vôo do Legacy foi elaborado por uma empresa contratada, e que o documento foi plenamente aceito pelos pilotos. Mas não soube dizer se eles receberam uma explicação detalhada a respeito. Ele lembrou que os americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino tinham habilitação para pilotar um Legacy.

- Certamente ele (o piloto) deu conhecimento (do plano de vôo). Senão, ele não teria decolado - disse Curado.

Durante o depoimento de Curado houve novo round na troca de farpas envolvendo a CPI do Apagão Aéreo do Senado. O deputado Leandro Quintão (PMDB-MG) saiu em defesa do relator da CPI da Câmara, Marco Maia (PT-RS), chamado de "Pedro Bó" pelo presidente da CPI do Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO). Para revidar, Quintão o xingou de "Zé Goiaba", arrancando risos de Marco Maia.

As críticas a Demóstenes surgiram quando se discutia o grau de responsabilidade dos pilotos americanos no acidente. O senador tem dito que tanto os controladores como os pilotos foram responsáveis. Já Maia considerou prejulgamento culpar os controladores, gerando conflito entre as duas CPIs que investigam a mesma coisa.

- Foi um desrespeito para com a Câmara e o Senado. Ele é um Zé Goiaba! - disse Leonardo Quintão.

- Não estou endossando o xingamento, mas acho que ele respondeu à altura. Vamos responder com trabalho sério e competente - disse Maia.

Deputado relata conversa de pilotos e funcionários

O presidente da CPI, Marcelo Castro, disse que vai procurar Demóstenes para acalmar os ânimos. Para ele, esse clima não interessa a ninguém.

A sessão se tornou ainda mais polêmica no momento em que o deputado Vic Pires (DEM-PA) leu trechos das transcrições da caixa-preta do Legacy, que indicariam que os americanos tiveram dificuldades em pilotar o avião e que, em alguns momentos, teriam conversado com dois funcionários da Embraer que estavam a bordo. Curado disse que a presença dos funcionários tinha objetivo comercial e que eles não possuíam conhecimento técnico profundo.

Nesse momento, o deputado Carlos William (PTC-MG) disse que estava na sessão um dos funcionários, Daniel Bachmann, que vai depor hoje na CPI. Foi pedido que deixasse o local.