Título: Produção de etanol faz preço da terra ter valorização histórica no Brasil
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 07/06/2007, Economia, p. 30
Custo de áreas destinadas ao cultivo de cana no Nordeste subiu 84%.
SÃO PAULO. O crescimento dos projetos envolvendo o plantio de cana-de-açúcar e a produção do etanol fez explodirem os preços das terras no Brasil, que atingiram em abril o seu pico histórico. Na média do país, o preço do hectare chegou a R$3.432, contra pouco mais de R$3.300 no bimestre maio-junho de 2004, quando a cultura da soja dava o tom no campo. Somente nos últimos 12 meses, a valorização foi de 11,64%, mas algumas regiões do país tiveram resultados bem superiores à média.
As terras destinadas ao cultivo da cana no Nordeste, em especial na Zona da Mata alagoana, tiveram valorização de 84%. Em Araraquara, interior paulista, o que era ocupado por grãos e pastagens agora passou a dividir espaço com a cana, o que fez o preço do hectare subir 70% nos últimos 12 meses. De R$9.621 em maio-junho de 2006, esse valor chegou a R$16.332 em abril deste ano. No Rio, o preço da terra teve alta média de 26%, com destaque para a região de Campos (aumento de 46,82%).
- Há dois anos, só se falava em soja. Agora, a vedete do momento é o etanol. Essa inflação está estritamente ligada ao etanol - afirmou a engenheira agrônoma Jacqueline Dettmann Bierhalds, analista do Instituto FNP, responsável pelos dados.
Preço de terreno assusta investidores estrangeiros
Essa valorização tem assustado muita gente. Em meados do ano passado, um grupo de 14 empresários da Holanda que produzem álcool a partir da beterraba desembarcou em Cravinhos, no interior paulista, interessado em comprar uma área para se instalar no país. Eles desistiram do negócio quando souberam que o preço do hectare na região pode chegar a R$30 mil - valor que restringiria o potencial de rentabilidade do projeto.
- Todo dia recebo a visita ou a ligação de alguém que representa grupos estrangeiros. O preço sempre assusta - disse o corretor de terras Atílio Benedini Filho, com 40 anos de atuação no setor.
A cana já ocupa cerca de 3,4 milhões de hectares em São Paulo, o correspondente a 52% do plantio do produto no país. A saturação no estado levou os empresários a abrirem novas fronteiras para o etanol. Três regiões têm concentrado as atenções: as cidades que formam o Triângulo Mineiro, o Sul de Goiás e o Leste de Mato Grosso do Sul. Nesses lugares, pelo efeito da demanda, os preços também dão sinais de explosão.
Há um ano, era possível fechar negócio por entre R$3 mil e R$6 mil o hectare em cidades como Rio Verde, no Sul de Goiás. Hoje, o vendedor da terra não começa a conversa com preços inferiores a R$4 mil. O teto já chegou a R$7 mil. O mesmo vale para Três Lagoas e Aparecida, em Mato Grosso do Sul. Ali, o preço do hectare, que oscilava entre R$1.500 e R$3.500 há um ano, pulou para o intervalo entre R$2 mil e R$4.500. Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o valor do hectare acumula valorização de até 31% nos últimos 12 meses: de R$8 mil, foi para R$10.500.
Jacqueline acredita que o preço já chegou a seu teto no interior paulista. Mas é possível esperar valores ainda mais elevados para regiões da nova fronteira.
- Salvo poucas exceções, existe uma forte resistência em vender terras neste momento, diante do fato de que a maioria dos produtores acredita na retomada dos preços dos imóveis rurais num horizonte de prazo mais longo - disse a engenheira.