Título: 'Chamar a moça para quê?
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/06/2007, O País, p. 3

Relator diz que Renan não é réu e descarta convocar Mônica.

BRASÍLIA. Apesar do farto noticiário sobre as denúncias que atingiram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e motivaram a representação do PSOL, um dia após sua nomeação para o cargo de relator do processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), ainda parecia ontem alheio à discussão que mobiliza a Casa há duas semanas. Cafeteira nem sequer admite que Renan seja réu do processo aberto quarta-feira. E deixou claro que não vê problema no fato de Renan permanecer na presidência durante a investigação.

- Ele (Renan) não é réu. Eu é que vou examinar a representação, examinar as provas e indicar se ele realmente é réu ou não - disparou Cafeteira.

Mesmo alegando não conhecer detalhes do processo, Cafeteira praticamente descartou a convocação da jornalista Mônica Velloso, com quem Renan teve uma filha e que desmentiu, quarta-feira, a versão apresentada pelo lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, de que parte dos pagamentos intermediados por ele haviam sido depositados em uma conta no seu nome no Unibanco.

- Chamar a moça para quê? Para fofocar? - reagiu, ao ser indagado se convocaria Mônica.

Ele admitiu a hipótese de aproveitar e informações e o depoimento colhidos pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que terça-feira ouviu Gontijo.

O PSOL pretende entregar a Cafeteira segunda-feira relação de nomes que deveriam ser convidados pelo Conselho de Ética para depor. Na lista estão Renan, Mônica, Gontijo e o empreiteiro Zuleido Veras, com quem o presidente do Senado teria relações e que é investigado no esquema de fraudes de licitações desvendado pela Polícia Federal na Operação Navalha. O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), deverá cobrar a convocação de um primo, Antônio Vasconcelos, e do irmão de criação de Renan, Dimário Calheiros, que, em depoimento ao Ministério Público Federal, acusaram Renan de usar laranjas para ocultar seu patrimônio em Alagoas.

Alencar defende que técnicos da Receita Federal sejam ouvidos pelo Conselho para esclarecer denúncia publicada ontem pelo jornal "Correio Braziliense" de que Renan teria feito retificações nas declarações de renda para comprovar que tinha condições financeiras para arcar com a pensão de R$12 mil paga à jornalista durante a gestação e antes do reconhecimento oficial da paternidade.

Em nota, Renan classificou de "absolutamente falsa" a afirmação de que teria apresentado declarações retificadoras do Imposto de Renda após se tornarem públicos fatos envolvendo sua vida privada.

Por intermédio de sua assessoria, admitiu que fez retificação na declaração de renda referente ao ano base de 2003, mas em abril de 2004, e não para incluir patrimônio.