Título: Heloísa Helena abre congresso do PSOL em área afetada pela violência
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 08/06/2007, O País, p. 4

Ex-senadora vê raízes do crime no Planalto, Congresso e Judiciário.

A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) dividiu o palanque com mulheres vítimas da violência, na tarde de ontem, durante a abertura simbólica do I Congresso Nacional do partido, na Praça do Parque União, em frente à passarela 10 da Avenida Brasil, no Complexo da Maré. Seu discurso deixou de lado a política tradicional para atacar a violência do aparelho de Estado contra comunidades carentes.

- Não estamos aqui para defender o crime organizado. As raízes dele estão no Palácio do Planalto, no Congresso e no Judiciário - declarou.

Heloísa Helena voltou ao complexo onde, no dia 27 de setembro do ano passado, quando disputava a sucessão presidencial, ficou frente a frente com um traficante armado de fuzil e outro com um rádio-transmissor na cintura. Na ocasião, a comitiva da então senadora alagoana teve de desviar do caminho e um de seus integrantes pediu para que os militantes evitassem usar aparelhos de comunicação, para não serem confundidos com policiais.

Congresso tem delegados de 26 estados

O primeiro congresso do PSOL (fundado em 2004) terá, segundo os divulgadores, representantes de 26 estados e serão apresentadas 14 teses nacionais e contribuições que representam as opiniões de diversas correntes de pensamento. No fim do congresso, será definida a linha política e escolhida a futura direção nacional do partido.

Antes do discurso da ex-senadora, o PSOL levou ao palco do Parque União um grupo de mães e outras parentes de jovens mortos em ações policiais. A mais emocionada era Márcia Jacintho, que perdeu um filho, Hanry da Silva, de 16 anos, em novembro de 2002, no Morro do Gambá, no Lins de Vasconcelos.

Márcia, que faz parte da Rede de Movimentos Contra a Violência nas Comunidades, contou que o garoto voltava para casa por um atalho, no alto do morro, quando foi cercado por nove policiais militares. Segundo ela, os PMs o confundiram com traficantes e tentaram extorquir dinheiro dele. Como ele não levava dinheiro, teriam-no obrigado a se ajoelhar e atiraram no seu peito.

- Meu filho não era bandido. Forjaram tudo para justificarem a execução -- desabafou Márcia.

A mulher, ao contrário de outros casos semelhantes, viu dois dos nove policiais e dois civis que acusa de envolvimento com o assassinato do filho serem indiciados. Heloísa Helena enfatizou, no discurso, que as vítimas são "filhos da pobreza", mas não chegou a apresentar propostas de combate à violência.

Observador de Chávez assiste a Heloísa na Maré

O evento na Maré foi acompanhado pelo venezuelano Haiman el Troudi, ex-chefe da Casa Civil do governo de Hugo Chávez (2005-2006), que explicou estar ali na condição de observador, interessado em conhecer a experiência política do PSOL. Haiman disse que, em seu país, participa do processo de formação do Partido Socialista Bolivariano da Venezuela. Ele minimizou a crise diplomática entre Chávez e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deflagrada por conta dos ataques do presidente venezuelano ao Senado brasileiro.

- É uma acomodação ideológica - comentou.

Ao saber da presença de Haiman, Heloísa Helena se mostrou cautelosa.

- Respeito a soberania da Venezuela, mas se fosse eleita presidente, não faria isso (não renovar a concessão da RCTV). Prefiro ter dois ou três minutos no "Jornal Nacional" (da TV Globo) para dizer o que eu penso.

Dirigentes do PSOL anunciaram que, caso a Comissão de Ética arquive as investigações contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o partido vai entrar com medidas judiciais no Supremo.