Título: Lula: PF e Ministério Público agem 'direitinho'
Autor: Berlinck, Deborah e Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 09/06/2007, O País, p. 5
Presidente rejeita pressões contra operações policiais, diz que resultado "dói", mas que combate à corrupção continuará.
BERLIM. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que seu governo vai continuar a combater a corrupção e afirmou que não aceitará pressões contra investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Lula salientou que a única coisa que tem pedido aos dois órgãos "é que sejam prudentes".
- É a única coisa que estou pedindo. E acho que estão fazendo direitinho. Dói? Dói. As pessoas que aparecem sofrem? Sofrem. Mas um dia haverá julgamento, e aparecerá quem é culpado e quem é inocente.
Lula deu a declaração ao responder a uma pergunta de jornalistas brasileiros que, citando a série de escândalos recentes, quiseram saber se o Brasil não estaria fracassando no combate à corrupção. Na resposta, deixou claro que as investigações não vão parar, apesar das reclamações de setores do Congresso, e até do Judiciário, sobre eventuais excessos da Polícia Federal nas operações:
- Na medida que se tenha o que investigar, vamos investigar. Tenho dito o seguinte: nem aceito pressão para diminuir o processo de investigação da Polícia Federal, nem aceito pressão para diminuir, até porque é um órgão autônomo, a investigação do Ministério Público.
Presidente não menciona seu irmão
Lula não mencionou em momento algum a suspeita de envolvimento de seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, com a quadrilha que opera caça-níqueis, alvo da Operação Xeque-Mate da PF. Desde que chegou à Alemanha para participar como convidado da reunião anual do G-8 (os sete países mais ricos, mais a Rússia), Lula se nega a comentar o escândalo. Mas ele prometeu responder a todas as perguntas dos repórteres quando voltar ao Brasil. O presidente chega hoje a Brasília.
Lula adiantou que vai propor a criação de uma equipe de fiscalização contra a corrupção no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Ministério Público.
- O que não falta no Brasil é gente para fiscalizar. Ainda assim, (a corrupção) acontece. Na medida que acontece mais, não temos o que fazer a não ser colocar a Polícia Federal para investigar tudo o que for necessário. Na medida que temos que investigar, nós vamos investigar.
Numa declaração sobre o crescimento e a estabilidade da economia mundial, o G-8 insiste na necessidade de combate à corrupção nos países ricos e pobres, e diz que vai intensificar esforços para combater a corrupção em nível global. Lula disse que o Brasil tem muitas leis para fiscalizar, e que seu governo adotou medidas de prevenção, como o pregão eletrônico.
Para ele, os casos de corrupção, não apenas no Brasil, como nos Estados Unidos, na Itália e em qualquer outro lugar, "só aparecem quando o governo vai fundo na investigação".
- E quanto mais vai fundo na investigação, mas vai aparecer, até que um dia ela acabe, se é que um dia vai acabar.
Lula citou a ofensiva contra a corrupção na Itália, conhecida como "Operação Mãos Limpas". Depois dessas medidas, disse, imaginou-se ter acabado a corrupção na Itália, até surgir ano passado o escândalo envolvendo clubes de futebol - que combinavam resultados no campeonato nacional. Indagado se ainda poderiam ser adotadas mais medidas de combate à corrupção no Brasil, respondeu:
- Pode haver. O Congresso pode apresentar uma quantidade enorme de leis para dificultar ainda mais.
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