Título: 'Liderança do presidente Lula é óbvia'
Autor: Fernandes, Diana e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 10/06/2007, O País, p. 8

Ministro diz não ver risco de autoritarismo ou atitude antidemocrática na região.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, diz acreditar que os embaraços às vezes criados por vizinhos como Venezuela e Bolívia não mudarão a relação do Brasil com os países da América do Sul. Para Amorim, os presidentes da região têm estilos diferentes, e só cabe ao povo de cada país julgá-los.

Diana Fernandes

Pode haver mudança na relação do Brasil com seus vizinhos em função de situações embaraçosas criadas, por exemplo, pela Bolívia e Venezuela, pondo em dúvida a liderança do presidente Lula na região?

CELSO AMORIM: A presença do presidente Lula na região é muito óbvia. Evidenciou-se até aqui na Índia o reflexo dessa liderança, que é muito regional mas também muito pessoal. Os problemas são normais. Isso não quer dizer que vamos colocar de lado o nosso projeto de integração da América do Sul. Isso nos fortalece no mundo. Nossa política externa não será mudada. Agora, se cada evento demandar uma reação, a reação ocorrerá.

Concorda com a percepção de que Hugo Chávez tenta assumir essa liderança?

AMORIM: As pessoas estão sempre querendo fazer da política internacional uma espécie de campeonato de futebol, para saber quem está na frente. Não é assim. A integração é uma coisa que beneficia a todos. O presidente Chávez tem sido muito ativo nisso. Não concordamos às vezes em tudo, mas procuramos sempre chegar a um entendimento depois. Falando de maneira geral e não especificamente desse caso agora, temos agido respeitando as diferenças e esperando também que outros respeitem as diferenças que existem em relação a nós.

O presidente vai visitar países da América Central, Caribe e México, em agosto, dentro da estratégia de firmar sua liderança na região...

AMORIM: Não é uma questão de firmar liderança. É muito importante para o Brasil. Mesmo os países que há até pouco tempo representavam pouco, como os países da América Central, hoje importam mais de US$1 bilhão do Brasil. O Caribe está chegando perto disso. Sem dizer que o Brasil, sendo um grande país, tem interesse que haja estabilidade na região, que haja estabilidade no Haiti, e por isso participamos da Força de Paz da ONU. Não nos interessa que um país desses possa ter um problema tão grave que se torne um risco de instabilidade para a região. Se pudermos também ajudar, ajudamos, porque é a política do presidente Lula de solidariedade aos países em desenvolvimento.

Há risco de uma escalada autoritária na região?

AMORIM: Não vou fazer julgamentos. O presidente Chávez é eleito com grande votação. Houve um referendo sobre as eleições e o povo o confirmou. Agora, os estilos, o que cada um faz, cabe ao povo do país julgar.

Mas a democracia na região corre risco?

AMORIM: Não vejo nenhum risco de autoritarismo ou de atitudes antidemocráticas na América do Sul. Agora, em casos específicos, cada um pode ter sua opinião. E o povo de cada país é que é o melhor juiz.