Título: Compadre de Lula contava com impunidade
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 10/06/2007, O País, p. 10

Em gravações, Morelli diz acreditar que não seria pego por ser do PT e revela saber das investigações da PF.

CAMPO GRANDE. Compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dario Morelli Filho, preso na Operação Xeque-Mate, conta, em telefonemas grampeados, que, além de sócio de uma casa de bingos em Ilhabela (SP), tinha máquinas caça-níqueis de rua e expandia os negócios ilegais para cidades como São Sebastião e Ilhabela. Ele conta como corrompia policiais e afirma que nem sempre pagava os prêmios corretamente aos apostadores. Mas Morelli deixa claro, também, que contava com a impunidade pelo fato de ser membro do PT e ter contatos políticos importantes. Nas gravações, Morelli chama o presidente Lula, que é padrinho de seu filho, de "titio".

Morelli, em conversa com o sócio Nilton Cezar Servo, interceptada pela Polícia Federal, diz que fora avisado sobre os grampos telefônicos já no dia 16 de maio. Na ligação, ele comenta que "deu um pepino feio" e avisa que precisava conversar pessoalmente. Morelli teria ameaçado fazer um escândalo em Brasília.

Morelli afirma que não via problema em usar um telefone em seu nome, pois quando o caso caísse em Brasília, a PF não ousaria atingí-lo. Morelli percebe que Servo acredita estar monitorado pela PF e se oferece para comprar um telefone para ele em seu nome:

- Se rastrear o meu nome, quando cair nas coisas lá e ver o meu nome, o cara já pensa duas vezes em fazer qualquer coisa (sic) - afirma Morelli, numa gravação.

Segundo investigações da PF, os dois sócios estavam em São Paulo no dia do suposto vazamento da Operação Xeque Mate, para conversar com Raimundo Romano, dono da Multiplay, fornecedora de máquinas caça-níqueis.

Em outro diálogo com Servo, No dia 30 de abril, numa conversa com Morelli, Servo conta que "espantou a quadrilha", em Campo Grande, referindo-se a uma briga com outros envolvidos nos jogos ilegais. Morelli responde:

- Tem coisa que tem que ser na bala.

Morelli recebe ainda uma ligação da Delegacia da Polícia Civil de Ilhabela, de um policial que se identifica como Beto. Na conversa, fica claro, segundo a PF, que Morelli conseguiu trocar um delegado da cidade, por meio de seus amigos. O motivo é que o ex-chefe de Beto não aceitou as propinas de Morelli e Servo. Por fim, no fim da conversa, fica claro que Morelli e Servo pagavam propina ao policial.

Outro telefonema revela que um delegado da Seccional de São Sebastião teria aceitado a abertura de uma nova casa em São Sebastião (litoral paulista). Morelli diz ainda que recebe informações privilegiadas da PF de São Paulo e da Polícia Civil. Era avisado antes e conseguia recolher suas máquinas de rua antes de passar por blitz da PF.

Em outra ligação, Servo explica ao suposto sócio como funcionava a contabilidade de um bingo:

- Quando tinha legislação, pagava 30% do volume de dinheiro, o que era inviável.

Morelli também conversa, por telefone, com um presidiário. No telefonema, ele descreve o seu negócio e de seus planos de instalar mais 30 máquinas em São Sebastião e Manaus. Morelli conta que tem máquinas caça-níqueis "de rua" também , que eles deixa nos bares por R$3.500. O presidiário garante a Morelli que fugirá da prisão.