Título: Delúbio ainda não foi demitido em Goiás, mas é investigado
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 10/06/2007, O País, p. 13

Ex-tesoureiro do PT continua usando um carro blindado.

SÃO PAULO. Apontado como um dos chefes da "quadrilha do mensalão", o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares voltou a atuar nos bastidores e resgatou um velho sonho. Delúbio planeja ser candidato a deputado federal por Goiás, em 2010, e, em curto prazo, reeleger o irmão, Carlos Soares (PT), para a Câmara de Vereadores de Goiânia, no próximo ano. Ainda de carro blindado e motorista particular, Delúbio conta com portas abertas em muitos gabinetes país afora, mas tem se mostrado mais em Goiás, onde nasceu. A influência política de Delúbio no estado chamou a atenção e virou objeto de inquérito, aberto na semana passada pelo Ministério Público estadual.

- Suspeitamos que alguém no governo do estado o está protegendo. É incrível, mas, mesmo depois de ser condenado a devolver R$163 mil aos cofres do estado, de onde recebeu salários de professor sem trabalhar, ele continua funcionário público de Goiás - afirma o promotor de Justiça em Goiânia Fernando Krebs.

O governador do estado, Alcides Rodrigues (PP), que foi vice, na gestão anterior, de Marconi Perillo (PSDB), nega estar mantendo qualquer relacionamento político com Delúbio. A demora na exoneração, no entanto, o governo não explicou. A assessoria do Palácio das Esmeraldas atribuiu o fato a uma possível burocracia.

O promotor, no entanto, frisa que foi o próprio ex-tesoureiro que declarou ao Ministério Público, em depoimento, que fazia lobby para o governo goiano, em setembro de 2005, ao tentar explicar o salário de professor que recebia sem dar aulas.

Segundo a declaração de Delúbio, juntada semana passada ao inquérito do MP, ele prestava "assessoria na obtenção de verbas (federais) para recuperação de estradas, para a construção de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), para a construção da Barragem João Leite e para a construção do Aeroporto Santa Genoveva (...) na medida da solicitação do governador".

Na época, Perillo refutou o ex-tesoureiro petista.

Em Goiânia, o irmão de Delúbio, empossado vereador há três meses em uma vaga de suplente, pelo PT, tem atuado como uma espécie de braço direito do prefeito, Iris Rezende (PMDB). Teria conseguido, por meio da influência de Delúbio, aprovar verbas federais extras para habitação na cidade.

- Não tivemos influência nisso, e essa ajuda nem foi definida oficialmente ainda, que eu saiba. Além disso, Iris Rezende tem muito boas relações próprias em Brasília, não precisaria do Delúbio - afirma o irmão vereador.

"Não sei como o meu irmão vive, não fico perguntando"

Desempregado há dois anos, Delúbio não tem bens em seu nome. A única propriedade, um carro Ômega blindado, está bloqueada pela Justiça de Goiás, até que ele devolva o dinheiro recebido como professor sem ter dado aulas no estado, segundo o promotor. Amigos e inimigos ouvidos pelo GLOBO não conseguem explicar como ele se sustenta financeiramente.

- Eu não sei como o meu irmão vive, não fico perguntando. Nunca lhe perguntei como tem se sustentado. Se não posso ajudá-lo, não fico perguntando - disse o irmão, depois de explicar que, logo após o escândalo do mensalão, sua família se reuniu e decidiu não se envolver no caso, nem dar declarações sobre Delúbio.

Perguntado sobre os temas que conversa com o irmão, Carlos reagiu rapidamente:

- Sobre futebol.