Título: Lula diz que irmão é limitado e se irrita com o compadre
Autor: Gois, Chico de e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/06/2007, O País, p. 9

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Apoio para restringir grampos.

Presidente afirma que PF tem carta branca para investigar.

BRASÍLIA. Na reunião de coordenação política, ontem, no Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Polícia Federal tem carta branca para investigar todos, inclusive seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá. Mas voltou a cobrar do ministro da Justiça, Tarso Genro, cuidado com eventuais excessos. Vavá é investigado por suposto lobby junto a empresários do jogo e da construção. Na reunião e em conversas reservadas, Lula se mostrou entristecido com o episódio, mas em público tentou exibir bom humor.

- A Polícia Federal tem que investigar o que tiver para investigar. Mas é preciso controlar os excessos - disse Lula, após Tarso falar sobre a Operação Xeque-Mate.

Em conversas reservadas, o presidente confidenciou estar triste com o surgimento do nome de Vavá na operação. Ele voltou a defender o irmão. Qualificou Vavá como um homem de "bom coração" e uma espécie de "paizão", mas alguém "limitado", sem condições de fazer lobby.

Para assessores, a situação só não se complicou com a divulgação das conversas telefônicas de Vavá porque ficou nítida a limitação do irmão de Lula para concluir qualquer tipo de negociação, além de sua incapacidade de ter acesso ao poder. Mesmo assim, Lula desabafou que Vavá teve um comportamento lamentável. Já com o compadre Dario Morelli, um dos pivôs da operação, Lula tem demonstrado menos afeto. Diz que ele é um "bon vivant", um fanfarrão, um homem da noite, que sempre procurou gravitar ao redor de sua família e do poder.

No Planalto, a constatação é de que houve excesso em relação a Vavá, já que as gravações não provam que ele fazia lobby no governo. A proposta de Tarso de endurecer a lei para limitar escutas na PF tem o apoio de Lula. A percepção no Planalto é de que a PF corre o risco de começar a atropelar o processo democrático. Pela proposta, o Ministério Público deverá dar seu aval antes de o pedido de grampo seguir para a Justiça.

Lula demonstra bom humor ao lado de Renan Calheiros

Em público, durante a cerimônia de recebimento da tocha dos Jogos Pan-Americanos, Lula procurou demonstrar descontração. Conversou várias vezes com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também enfrenta problemas. No caso de Renan, o que lhe preocupa não é o irmão Olavo (PMDB-AL), flagrado em grampos da Operação Navalha. Renan tem de responder de onde saíram os recursos para pagar a pensão de uma filha que teve com a jornalista Mônica Veloso.

Manifestantes aproveitaram um cochilo da segurança para cobrar pessoalmente de Lula, na rampa do Planalto, a legalização dos mototáxis nas capitais brasileiras. Pouco antes, Lula discursara sobre o projeto de segurança do Pan e dissera que países do terceiro mundo estão em condições de sediar grandes eventos. Os manifestantes comemoraram o feito.