Título: PT exigirá da bancada apoio a lista fechada
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 12/06/2007, O País, p. 10

Executiva do partido quer obrigar parlamentares a apoiar também financiamento público e fidelidade partidária

BRASÍLIA. O PT vai obrigar seus 82 deputados a votarem a favor da lista fechada de candidatos na reforma política. O assunto entra na pauta de votações da Câmara amanhã. O partido vai fechar questão, na próxima quinta-feira, quando estarão reunidos os 21 integrantes da executiva, que devem confirmar o apoio ao voto em lista fechada, ao financiamento público exclusivo das campanhas e à fidelidade partidária, segundo decisão adotada pelo Diretório Nacional, em maio. Ontem, a executiva se reuniu com 35 deputados e dois senadores, numa tentativa de garantir a unidade e persuadir os dissidentes.

- O debate de hoje foi para amadurecer nossa posição e estamos trabalhando na linha do convencimento, e não da imposição - disse o líder do partido na Câmara, Luiz Sérgio (RJ).

A votação do relatório do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), apoiado pelo PT, só deve ocorrer na próxima semana, por causa das medidas provisórias que trancam a pauta. Os petistas reconhecem que há divisão na bancada e, mesmo traumatizados com as expulsões ocorridas no primeiro mandato do presidente Lula, que resultaram na criação do PSOL, vão pressionar para que o partido vote unido.

- Tudo indica que vamos fechar questão. No PT, os mandatos são do partido - afirmou o secretário de Comunicação do PT, Gleber Naime.

Apesar da posição da maioria, favorável ao voto em lista fechada, o partido está preocupado com cerca de 30% da bancada que pode não acompanhar essa posição. Por isso, a vice-presidente do partido, deputada Maria do Rosário (RS), informou que estava em debate também a adoção de uma lista flexível, na qual os eleitores votariam duas vezes: uma na lista pré-ordenada do partido e outra num candidato, que poderia mudar sua posição na ordem dependendo de sua votação individual. Naime bombardeou a tentativa de conciliar as divergências:

- A lista flexível leva à manutenção das disputas internas que resultam na degeneração da vida partidária.

O secretário-geral do partido, Joaquim Soriano, e o de Relações Internacionais, Walter Pomar, disseram que mesmo os deputados contrários ao voto em lista presentes à reunião, como Geraldo Magela (DF) e Carlos Zarattini (SP), assumiram o compromisso de acompanhar a decisão do partido. Maria do Rosário acredita que ainda há espaço para negociar uma proposta alternativa.

Um dos principais argumentos da direção petista é o número reduzido de deputados que obtiveram sozinhos o quociente eleitoral - a votação mínima que um partido tem de ter para eleger um deputado, considerando o número de vagas e de eleitores. Naime distribuiu levantamento demonstrando que dos 513 deputados federais, apenas 31 alcançaram o quociente. Os demais elegeram-se graças aos votos dados aos suplentes e às legendas. Dos 83 deputados eleitos pelo PT, apenas dois, Walter Pinheiro (BA) e Nelson Pelegrino (BA), atingiram o quociente eleitoral em 2006.

Mesmo não sendo deliberativa e estando esvaziada, vários petistas aproveitaram a reunião para criticar o fechamento de questão. Eles argumentaram que esta não é uma questão programática nem crucial para o governo Lula e que os parlamentares deveriam ser liberados para votar de acordo com sua convicção e conveniência política.

- Sou contra fechar questão. O partido deveria pensar numa transição - disse o deputado Domingos Dutra (PT-MA).

- É o pior dos mundos - protestou Sérgio Carneiro (PT-BA).

COLABOROU Isabel Braga