Título: Hospitais do Rio na UTI
Autor: Engelbrecht, Daniel
Fonte: O Globo, 12/06/2007, Rio, p. 14

Unidades têm apenas 61% do número de leitos de terapia intensiva recomendado pela OMS.

Os hospitais de emergência da cidade do Rio têm menos de dois terços do número de leitos de terapia intensiva recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A conclusão é de um levantamento da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, que também constatou a má distribuição das vagas pelo município. Com 42,4% da população, a região que vai de Cascadura até Sepetiba tem apenas 7,5% dos leitos de terapia intensiva. No domingo, a médica Yolanda Maria Cyranka, chefe de equipe substituta do Hospital Miguel Couto, na Gávea, foi presa por se recusar a transferir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Copa D"Or um paciente em estado grave.

Os hospitais de emergência do Rio deveriam ter, segundo o vereador Carlos Eduardo (PSB), presidente da Comissão de Saúde, um mínimo de 428 leitos de terapia intensiva. No entanto, existem apenas 262, ou 61,2%. O cálculo baseia-se numa recomendação da OMS, de que 10% do total de leitos das unidades que tenham emergência devam ser de terapia intensiva.

Só três hospitais têm número correto

Dos 13 hospitais de emergência do Rio, somente o Lourenço Jorge, na Barra, o Rocha Faria, em Campo Grande, e o Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, têm o número correto. Já o Paulino Werneck, na Ilha do Governador, e o Albert Schweitzer, em Realengo, não têm sequer um leito de UTI.

Dados de 2003 do Ministério da Saúde mostram que a rede pública do Rio como um todo, incluindo maternidades, hospitais sem emergência e clínicas conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), tem somente 561 leitos de UTI, num universo de 17.516 leitos gerais.

Além de poucos, os leitos de UTI não estão regularmente distribuídos, de acordo com a Comissão de Saúde. Com 21,6% da população, o Centro, a Zona Sul e parte da Zona Norte (Tijuca, Vila Isabel e Andaraí) detêm 64,8% dos leitos de terapia intensiva.

- A falta de leitos de terapia intensiva e sua má distribuição obrigam pacientes em estado grave a ficarem nas emergências, que não têm equipamentos e recursos humanos adequados - avalia Carlos Eduardo.

A escassez de vagas gera problemas como o vivido pelo funcionário aposentado da Comlurb Rosevam Galileu, de 39 anos, pivô da situação que levou à prisão da médica Yolanda. A família do aposentado procurou a Justiça no sábado à noite, depois de saber que ele não poderia ser transferido da emergência do Miguel Couto para a UTI, por falta de vaga.

Dois mandados foram expedidos, o último deles determinando que o aposentado fosse transferido para a UTI do Copa D"Or, caso não houvesse vaga em UTI da rede pública. Na manhã de domingo, o paciente foi acomodado na Unidade Coronariana do Miguel Couto, que também é considerada de terapia intensiva. A família argumentou, contudo, com base em laudo médico, que o local não era adequado.

Considerando que a médica não cumpriu a ordem de transferir o aposentado, a juíza Simone Cavallieri Frota expediu ordem de prisão por desobediência. Ela sustenta que a ordem baseou-se no fato de a médica não ter comprovado que a Unidade Coronariana era adequada. Rosevam foi levado mais tarde para o Copa D"Or.

- A médica ofereceu resistência injustificada à ordem judicial - disse a juíza.

O advogado da médica, Otávio Cyranka, garante que ela não descumpriu ordem judicial:

- A transferência para o Copa D"Or só deveria ser realizada se não houvesse vaga na rede pública. No prazo de quatro horas, o paciente foi encaminhado para a Unidade Coronariana, que é de terapia intensiva.

A Secretaria municipal de Saúde disse que o hospital cumpriu a ordem ao internar o aposentado na Unidade Coronariana. O órgão ressaltou ainda que todos os hospitais municipais cumprem a cota de 10% de leitos de terapia intensiva recomendada. A Secretaria estadual de Saúde não quis comentar o assunto.