Título: Bolívia diz que pagou 1ª parcela por refinarias. Petrobras não confirma
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 12/06/2007, Economia, p. 24

Governo de Morales garante que depositou US$56 milhões em conta da estatal.

RIO e LA PAZ. O governo boliviano anunciou ter depositado ontem para a Petrobras Bolívia, subsidiária da Petrobras, US$56 milhões referentes à primeira parcela dos US$112 milhões acertados para a compra das duas refinarias da estatal brasileira no país. Mas, até a noite de ontem, a Petrobras não havia confirmado ter recebido o pagamento. Durante o dia, em uma entrevista coletiva, o ministro boliviano dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, garantiu que o depósito foi feito de manhã, em um banco em Nova York, e que a instituição informou à Petrobras.

Segundo informações que circularam no fim da tarde, teriam ocorrido "problemas administrativos" que fizeram com que fosse adiada para hoje a efetivação do pagamento da primeira parcela, apesar do anúncio oficial do governo boliviano. Fontes técnicas da Petrobras afirmaram que não seria por falta de dinheiro que a Bolívia deixaria de fechar o negócio. As fontes disseram que, desde maio do ano passado, a Bolívia já recebeu US$400 milhões extras da Petrobras apenas por causa do aumento das taxas e royalties nesse período.

Ontem venceu o prazo de 60 dias dado pela Petrobras para fechar a venda das duas refinarias para a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). O pagamento da segunda parcela de US$56 milhões está previsto para ser feito daqui a 60 dias.

A solenidade de entrega das refinarias à YPFB, que estava programada para ontem, foi adiada para hoje, devido à complexidade dos trâmites de transferência do controle da Petrobras Bolívia Refinación S.A. (PBR), braço de refino da Petrobras Bolívia, para a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos de Refinación, a empresa que está sendo criada para assumir as operações de refino.

Segundo o presidente da YPFB, Guillermo Aruquipa, a transferência, incluindo a designação da nova administração, estaria concluída na madrugada de hoje.

Petrobras deixa refino após abandonar distribuição

A retomada das duas refinarias, que tinham sido compradas pela Petrobras em 1999, é um passo importante no processo de nacionalização do setor de petróleo e gás na Bolívia. A medida foi tomada por meio de um decreto no dia 12 de maio deste ano, quando o governo da Bolívia assumiu todos os negócios e a receita das exportações de derivados das duas refinarias. Para a Petrobras, ficou insustentável continuar no negócio, uma vez que era justamente das exportações que ela obtinha lucro na operação das duas unidades.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, vai participar hoje da solenidade de transferência. De acordo com sua agenda, Morales vai primeiro a Santa Cruz de la Sierra, e, em seguida, para Cochabamba - locais das duas refinarias.

Caso seja concretizada hoje a vendas das duas refinarias, as atividades da Petrobras na Bolívia, que há um ano atingiam todas as áreas do setor petrolífero, vão se limitar à exploração e à produção de gás natural e petróleo. Um mês depois do decreto de maio do ano passado, que nacionalizou o setor, a Petrobras foi obrigada a devolver as atividades de distribuição de combustíveis. Agora, está saindo do refino.

A Petrobras produz principalmente nos campos de San Alberto e San Antonio. São cerca de 25 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, o que representa em torno de 60% da produção total da Bolívia, que é de 42 milhões de metros cúbicos por dia.

Em maio deste ano, entraram em vigor os novos contratos para as atividades de exploração e produção de gás natural e petróleo. Mas novos problemas surgiram. Em fins de 2006, a Bolívia assinou uma resolução pela qual redistribuiu as contas de fornecimento de gás natural para o mercado interno. A Petrobras, por ser a maior produtora, é a maior prejudicada, pois terá de reduzir as exportações ao Brasil para atender ao mercado boliviano, a preços bem inferiores.

(*) Com agências internacionais