Título: Dólar volta a recuar, apesar de medidas do BC
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 12/06/2007, Economia, p. 27

Moeda americana cai 0,92%, para R$1,942. Para mercado, regras são inócuas para segurar a cotação.

RIO e BRASÍLIA. A entrada maciça de dólares no país - resultado do forte saldo da balança comercial e do investimento de estrangeiros no Brasil - garantiu que a moeda americana encerrasse os negócios de ontem em queda de 0,92%, cotada a R$1,942. As medidas para conter a valorização do real anunciadas na última sexta-feira pelo Banco Central (BC) passaram ao largo do mercado e a cotação caiu durante a maior parte do dia. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,85%, recuperando parte das perdas da semana anterior. Já o risco-Brasil ficou estável em 146 pontos centesimais.

Na última sexta-feira, o BC limitou as operações dos bancos no mercado de câmbio a 30% do patrimônio (antes, tais negócios podiam corresponder a 60% do total), elevou de 50% para 100% as exigências de capital das instituições para fazer frente à exposição cambial e também exigiu que os bancos contabilizassem, no cálculo dessa exposição, as operações de filiais ou subsidiárias no exterior.

A expectativa do mercado financeiro era de que a adaptação das instituições às novas regras pudesse gerar uma maior procura por dólares, o que não ocorreu:

- As medidas afetam apenas as operações dos bancos no mercado de câmbio, não a forte entrada de recursos via balança comercial nem a enxurrada de dólares de estrangeiros. Por isso, as regras devem apenas influenciar a velocidade da queda, não a trajetória do câmbio em si - avalia Vanderlei Arruda, gerente de câmbio da corretora Souza Barros.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real e ex-diretor da Área Internacional do BC, pondera que o efeito maior deve ser sobre bancos de pequeno porte, onde a exposição cambial representa uma grande parcela do patrimônio. Nos grandes, há capital suficiente para fazer frente às mudanças. Ele lembra que, em muitos bancos, apostas em queda do dólar no mercado à vista são equilibradas por operações que visam ao lucro num cenário de alta das cotações no mercado futuro, o que garante zero de exposição cambial líquida. Com isso, a medida do BC é inócua.

O governo deve anunciar ainda esta semana algumas medidas para compensar as perdas de setores da economia prejudicados pelo câmbio, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Entre as ações estão, por exemplo, a oferta de linhas de financiamento do BNDES com taxas de juros reduzidas. No pacote também entrarão benefícios tributários. No entanto, o mais esperado deles - a desoneração da folha de pagamento das empresas - ficará de fora, pelo menos por enquanto .

- É mais difícil de implementar (a desoneração da folha). Temos feito simulações e, em alguns setores, a folha acabou tendo peso menor do que esperávamos. Mas continuamos fazendo estudos - explicou Mantega.

Apesar da valorização do real frente ao dólar, a balança comercial continua a pleno vapor. Em cinco dias úteis, a balança já acumula um superávit de US$1,069 bilhão em junho. O valor corresponde à diferença entre US$3,452 bilhões em exportações e US$2,383 bilhões em importações.

Focus: mercado eleva projeção para a inflação

Após dois meses prevendo uma taxa de inflação cada vez menor, o mercado passou a projetar pequena aceleração de preços. De acordo com a pesquisa Focus do BC divulgada ontem, os especialistas calculam que o IPCA deste ano ficará em 3,59%, acima dos 3,50% calculados na semana anterior, mas ainda bem aquém do centro da meta de inflação do governo para o período, de 4,50%. A puxada nos preços dos alimentos em maio, sobretudo com leite e derivados, é o principal argumento.

COLABORARAM Eliane Oliveira, Patrícia Duarte, Martha Beck e Henrique Gomes Batista