Título: Voto hispânico mais importante do que nunca
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/06/2007, O Mundo, p. 28

Antecipação de primárias em estados com eleitores latino-americanos muda cálculo dos partidos.

NOVA YORK. Com pesquisas de opinião mostrando o aumento do peso do eleitorado hispânico nos EUA, os pré-candidatos à Presidência dos dois maiores partidos americanos passaram a tecer estratégias para conquistar esse voto. Até agora, muitos desprezavam este eleitorado porque dois terços dos hispânicos do país vivem concentrados em só nove dos 50 estados. Mas em 2008 será diferente: estados com amplo eleitorado hispânico decidiram antecipar suas primárias e concentrar a escolha de seus candidatos entre 5 de janeiro e 5 de fevereiro. Entre eles estão Califórnia (com 16% de eleitores hispânicos em 2004), Flórida (9%), Nova York (11%) e Arizona (17%). Além disso, Nova York está no centro da corrida presidencial porque os candidatos com maior intenção de voto nos dois partidos têm sua base eleitoral no estado: a senadora democrata Hillary Clinton e o ex-prefeito republicano Rudolph Giuliani.

Fazem parte da nova estratégia eleitoral modelada pelos assessores dos candidatos o lançamento de sites em espanhol, entrevistas e anúncios em canais de TV hispânicos, a visita a cidades em que a maioria da população é de imigrantes da América Latina, disputa pelo apoio de políticos de origem latino-americana e a contratação de assessores especiais para ouvir as demandas deste eleitorado. Hillary saiu na frente com a contratação de Sergio Bendixen, analista político especialista em tendências de voto entre hispânicos, e a ajuda substancial de uma das mais experientes gerentes de campanha, Patti Solis Doyle, descendente de família mexicana.

¿ O voto hispânico nunca teve grande importância nas primárias, mas o novo calendário eleitoral mudou o panorama e aumentou sensivelmente o peso desse eleitorado ¿ diz Bendixen.

Segundo pesquisa encomendada pela CBS News e pelo ¿The New York Times¿, 60% do eleitorado hispânico que se identifica com os democratas simpatizam com Hillary. Seu índice de rejeição entre eles é de apenas 25%. A senadora ganhou pontos quando defendeu a reforma da lei de imigração, mas atacou o projeto de Bush porque ele tornaria mais difícil para o imigrante legal trazer a família para os EUA.

¿ A reforma foi derrotada por gente que não quer abrir caminho para legalização de imigrantes. Há um forte sentimento antiimigração, sobretudo entre os republicanos ¿ declarou Hillary para uma platéia de hispânicos, em visita ao bairro do Bronx, em Nova York, sexta-feira.

A opinião dela é seguida pelo senador democrata, e também pré-candidato à Presidência Barack Obama. O senador de Illinois, porém, passa despercebido para 40% deste eleitorado, que declaram não ter qualquer opinião sobre ele. Ainda entre os democratas, John Edwards é desconhecido para 60% dos hispânicos e até o governador do Novo México, Bill Richardson, filho de uma mexicana, amarga popularidade baixa entre eles fora do seu estado.

Giuliani e Mitt Romney perderam popularidade entre imigrantes

Entre os republicanos, Giuliani e Mitt Romney se opuseram ao projeto e perderam votos entre os hispânicos, enquanto o senador John McCain, que ajudou a redigir o projeto, enfrentou forte oposição dos conservadores do partido. As eleições para o Congresso de 2006 mostraram que apenas 26% dos hispânicos votaram nos republicanos, uma queda impressionante quando se lembra que Bush teve 44% desse voto em 2004. Romney tentou contornar o prejuízo e anunciou semana passada a contratação de um comitê para ajudá-lo a atrair votos hispânicos, liderado por Alex Burgos.

¿ Vimos na última eleição que o voto latino é crítico para vencer, sobretudo em estados como Califórnia, Nova York e Flórida. Estamos atentos ¿ disse Burgos.

Giuliani, que fez de sua atuação no 11 de Setembro o maior slogan de campanha, perdeu votos ao exigir controle rígido de fronteiras, identificação biométrica na entrada e na saída para estrangeiros, carteira de identidade para imigrantes e maior rigor na concessão de vistos de residência. A oposição de Giuliani e Romney ao projeto de Bush foi criticada pelo líder do Partido Republicano, Mel Martinez:

¿ Estou preocupado. Pagamos um alto preço pela perda do eleitorado nas eleições para o Congresso e se isto se repetir não elegeremos um republicano como o próximo presidente.