Título: Bush insiste em lei de imigração
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/06/2007, O Mundo, p. 28

Presidente dos EUA tentará convencer senadores republicanos a retirarem objeções.

Esperançoso e determinado, o presidente George W. Bush lançou uma espécie de promessa, com sabor de desafio, aos repórteres americanos que observavam o seu embarque ontem em Sófia, na Bulgária, de volta a Washington.

¿ Vejo vocês na assinatura da lei ¿ disse ele, referindo-se ao projeto de uma nova lei de imigração que, na verdade, está atolada no Senado, e com perspectiva de ser engavetada até que os Estados Unidos tenham um novo presidente, em 2009.

Disposto a aprovar a medida que é prioritária para ele, e tida como última grande iniciativa de seu mandato, Bush marcou um almoço para hoje, no Capitólio, com os senadores republicanos, na tentativa de convencê-los a dar mais uma chance à proposta.

¿ Demos dois passos à frente sobre imigração e, depois, um passo atrás. Agora eu vou trabalhar com aqueles que estão empenhados em aprovar a lei de imigração e começar a dar passos adiante outra vez ¿ disse Bush.

No início da noite de ontem, pouco antes de Bush chegar a Washington, os senadores da oposição viram frustradas a sua tentativa de forçar a renúncia do procurador-geral de Justiça, Alberto Gonzales, apesar de terem contado com a ajuda de alguns colegas republicanos. A sua proposta de se votar uma moção simbólica de não-confiança do alto funcionário foi derrubada.

Seriam necessários 60 votos a favor para que tal votação fosse realizada. Eles, no entanto, conseguiram apenas 53 votos a favor (38 votaram contra).

A votação ocorreria devido a investigações internas no Departamento de Justiça, que levaram à descoberta de documentos que contradizem declarações de Gonzales a respeito da demissão de vários promotores públicos. Ele afirmara que isso não tivera motivação política e que as exonerações tampouco foram articuladas com a Casa Branca.

Bush reagiu de forma desafiadora ao saber, ontem, da tentativa dos democratas. Ele definiu a iniciativa como ¿uma resolução sem sentido¿, e emendou:

¿ Eles podem tentar obter os votos de não confiança, mas isso não vai determinar quem serve no meu governo.

12 milhões esperam aprovação da lei

Em entrevista pouco antes de deixar a Bulgária, Bush disse que a aprovação da lei de imigração ¿ que legalizaria a situação de cerca de 12 milhões de imigrantes que vivem no país sem um visto de residência ¿ é a sua maior preocupação.

Ele descreveu a decisão do líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, de retirar o assunto da pauta na última quinta-feira, por falta de consenso como apenas ¿um empecilho temporário¿.

¿ Acho que podemos conseguir essa lei. Isso, agora, vai depender da liderança democrata no Congresso, e exigir de mim permanecer engajado e trabalhar com os republicanos que querem a lei ¿ disse Bush.

Reid, então, enviou ontem uma carta à Casa Branca, dizendo ao presidente que para ir adiante o projeto de lei agora depende basicamente de ele convencer os republicanos, cuja maioria conservadora rejeita a idéia por interpretá-la como uma anistia. A resistência no partido do governo é maior do que no da oposição.

¿Será preciso uma liderança mais forte de sua parte para garantir que os opositores da lei não bloqueiem o caminho para a sua aprovação final¿, escreveu Reid. E afirmou, em seguida, que estaria disposto a pôr a lei novamente em pauta se tiver uma garantia de que ela contaria com o apoio suficiente de republicanos.

Bush, por sua vez, entrou em contato com três senadores democratas, por meio de telefonemas feitos de dentro do Air Force One, o jato presidencial, no vôo de volta a Washington. Ele falou com Ken Salazar, Jon Kyl e Ted Kennedy, segundo a assessoria de imprensa da Casa Branca.