Título: Ministro das Cidades é investigado na Navalha
Autor: Carvalho, Jailton de e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 13/06/2007, O País, p. 5

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Ministério Público Federal apura envolvimento de políticos influentes com a Gautama.

PF gravou conversas de Márcio Fortes, do PP, com suspeitos de participar da organização de Zuleido Veras.

BRASÍLIA. O Ministério Público Federal recebeu informações da Polícia Federal que mostram um suposto envolvimento de políticos influentes com a organização do empreiteiro Zuleido Veras, desbaratada pela Operação Navalha. Entre os novos investigados estão o ministro das Cidades, Márcio Fortes (PP), e vários parlamentares. Se a análise do material apreendido na primeira etapa da operação confirmar os indícios obtidos até o momento, parte do caso será remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF), encarregado de apreciar casos relacionados a ministros e parlamentares federais.

Ministro mantinha conversas com Flávio Pin, da CEF

Ao longo das investigações, a PF gravou várias conversas de Fortes com pelo menos um dos supostos integrantes da organização de Zuleido. Segundo a assessoria do ministro, Fortes conversava com regularidade com o ex-superintendente da Caixa Econômica Federal Flávio Pin, um dos 48 acusados pela Operação Navalha que tiveram a prisão decretada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em conversas reservadas, policiais que estão à frente do caso dizem que os diálogos de Fortes são irrelevantes para a investigação sobre o esquema de desvio de verbas de Zuleido Veras.

- Ele (Flávio Pin) era nosso contato com a Caixa. Pedi esclarecimento sobre medições de obras, condição para a liberação de pagamentos. Foi uma conversa institucional, normal - disse Fortes.

O ministro disse que sequer conhece Zuleido. Mas, para o Ministério Público Federal, o caso não está encerrado. O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, pediu que a PF faça uma análise minuciosa de todas as conversas gravadas durante a Navalha e compare o resultado com o material apreendido. Antônio Fernando não se pronuncia publicamente sobre o caso, mas integrantes do Ministério Público entendem que essa nova frente de investigação poderá atingir políticos de foro privilegiado.

O PP já deflagrou uma operação para tentar blindar Márcio Fortes. Em reunião da bancada na Câmara, o líder Mário Negromonte (BA) reafirmou a confiança no ministro:

- O partido confia no Márcio Fortes. Temos que saber o conteúdo dessas conversas. Mas tenho certeza que o ministro só tem conversa institucional, dentro da ética e da moralidade.

Fortes pediu ao ministro da Justiça, Tarso Genro, esclarecimentos sobre a investigação. Também solicitou o teor das conversas em que aparece a sua voz. Ele ligou para o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e disse que não tinha envolvimento com o esquema de corrupção. Afirmou ainda que não tinha lembrança de uma conversa telefônica com o lobista Sérgio Sá, identificado como diretor da Engevix.

- Nem sei quem é. Quero saber que intimidade é essa que estaria nas gravações - disse Márcio Fortes ao GLOBO sobre o lobista da Gautama.

COLABOROU Cristiane Jungblut