Título: Mercadante seria alvo de outro pedido
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 14/06/2007, O País, p. 3

Em carta apreendida na casa de Vavá, empresa pede acesso à CSN para cobrar dívida.

CAMPO GRANDE. Entre os documentos apreendidos na casa de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 4 de junho, está um pedido de intermediação num negócio de R$13,7 milhões. O pedido é da Distribuidora Rezende S/A Comércio e Indústria ¿ que teria uma dívida a receber da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ¿ e deveria ser encaminhado ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

¿A Rezende pretende um acesso à CSN para propor acordo para pagamento da dívida, ainda que seja de forma parcelada, mas para tanto depende de alguém que viabilize este acesso para abrir negociação¿ diz um trecho da carta, que estava dentro de um envelope branco.

A assessoria de imprensa da CSN informou ontem que a empresa é ré num processo que a Rezende Indústria de Álcool e Açúcar ingressou na Justiça em 1994, um ano após a estatal ter sido privatizada. A ação continua em andamento e seria relacionada a uma área da Rezende que teria sido apropriada pela CSN.

A informação sobre o pedido de lobby derruba a versão dada pelo filho de Vavá, Edison Ignácio da Silva, no dia da apreensão. Na época, ele disse se tratar de um pedido de emprego.

Mercadante, que não chegou a receber a carta, negou qualquer contato com Vavá.

¿ Não conheço a Distribuidora Rezende e não é papel de um senador tratar de assuntos dessa natureza. Fico feliz que esta carta não tenha sido enviada ¿- disse Mercadante, ontem.

No depoimento que deu à PF em sua casa em São Bernardo do Campo, Vavá disse que tinha intenção de encaminhar o documento a Mercadante. No dia da apreensão, Edison, que foi candidato a vereador pelo PT de São Bernardo em 2004, disse ser amigo do senador.

Nas gravações feitas pela PF, Vavá aparece fazendo lobby no próprio órgão que o investiga. Em um diálogo com um investigador da Polícia Civil aposentado, identificado como Gildo de Mauá, às 7h51m de 31 de maio, Vavá diz que tinha acesso ao ministro da Justiça, Tarso Genro.

Vavá: ¿Vamos sentar com o secretário da Justiça, quer dizer, com o ministro da Justiça¿

Gildo, que dizia conhecer Vavá dos tempos da ativa, tem um filho que é policial federal lotado em São Borja (RS). Ele queria ajuda do irmão do presidente para transferi-lo para um posto mais próximo de São Paulo. Vavá prometeu ajuda: ¿Vamos sentar com o secretário da Justiça, quer dizer, com o ministro da Justiça¿.

Depois de perguntar se o pedido não poderia ser feito à primeira-dama, Marisa Letícia, e ouvir uma negativa de Vavá, Gildo pergunta se o próprio irmão entregaria o pedido a Lula. ¿Se não, peço a alguém levar para ele lá¿, responde Vavá. Tarso disse nunca ter se encontrado com Vavá e o Ministério da Justiça não tem registro da passagem do irmão de Lula pelo local.

Após confirmar o diálogo em que advertiu Vavá sobre intervenções no governo, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, outro irmão de Lula, mantém silêncio. Ele não tem saído de casa, desde então. O filho dele, Luciano Silva, disse que o pai não falaria seguindo recomendações médicas.

O advogado de Frei Chico, Iberê Bandeira de Melo Filho, disse ontem que não havia conversado com seu cliente até o início da noite. Indagado sobre de quem Frei Chico teria ouvido as informações de que Vavá estaria apresentando pessoas em ministérios, o advogado foi lacônico.

¿ Era uma coisa corrente em Brasília ¿ disse Bandeira. (Ricardo Galhardo e Flávio Freire)