Título: PF: Vavá tentou lobby com Lula
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 14/06/2007, O País, p. 3

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS

Presidente rechaçou pedido do irmão para "colocar umas máquinas para trabalhar na Vale".

Genival Inácio da Silva, o Vavá, e seu irmão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tiveram uma conversa sobre "o negócio das máquinas", segundo relatório do inquérito da Polícia Federal sobre a Operação Xeque-Mate concluído ontem e enviado à Justiça Federal, ao qual O GLOBO teve acesso. Vavá foi indiciado por usar sua suposta influência, segundo a PF, em favor da máfia de caça-níqueis que atua em Mato Grosso do Sul e outros três estados. No depoimento dado à PF em sua casa, em São Bernardo do Campo, no dia 4, Vavá disse que, na conversa com Lula, fez uma sondagem sobre a colocação de máquinas de terraplanagem para trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce. O pedido foi negado por Lula, segundo o relatório da PF.

No domingo passado, o advogado de Vavá, Nelson Passos Alfonso, informara que o assunto sobre equipamentos para terraplanagem havia sido tratado por Vavá numa conversa telefônica com o ex-deputado e suposto chefe da máfia dos caça-níqueis Nilton Cezar Servo, e não com o presidente Lula diretamente. O advogado, porém, não informou em nome de qual empresa essas máquinas estavam sendo negociadas.

Ainda segundo o relatório da PF enviado à Justiça ontem, Vavá recebia pedidos para serem encaminhados diretamente ao presidente. "Disse (Vavá) que, com relação à conversa que teve com seu irmão, o presidente Lula, a respeito do "negócio das máquinas", foi uma sondagem que fez para saber se havia possibilidade de colocar umas máquinas para trabalhar na empresa Vale do Rio Doce, o que foi negado pelo presidente, já que o mesmo não admite esse tipo de coisa", diz trecho do depoimento de Vavá à PF reproduzido no relatório.

Segundo o depoimento de Vavá, a conversa aconteceu em sua casa, em São Bernardo do Campo. O dono das máquinas seria um amigo de Vavá chamado Merivaldo Alexandre, cujo endereço ele não soube dizer.

Anteontem, Lula disse, em entrevista, que se encontrou com Vavá há cerca de 15 dias. O presidente afirmou ainda que Vavá "está muito mais para ingênuo do que para lobista".

A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto informou ontem que o presidente não vai se pronunciar sobre as declarações de Vavá à PF enquanto as informações forem extra-oficiais.

PF também apreendeu documento de lobby

Os documentos apreendidos na casa de Vavá indicam ainda que o irmão do presidente recebia pedidos e pessoas com interesses financeiros junto ao governo. Entre os papéis apreendidos, há um envelope amarelo tipo ofício endereçado "Ao Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva DD. Presidente da República. Em mãos", com quatro folhas de papel nas quais Neto Augusto Silva diz que: "valho-me da colaboração do amigo Vavá que se incumbiu de fazer chegar às mãos de Vossa Excelência o pleito de inúmeros desapropriados no sentido de agilizar o trâmite do processo n. 00.06.89279-5 que tem andamento há mais de 20 anos pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre".

O processo se refere a um embate jurídico entre ex-acionistas do Banco Sul Brasileiro, estatizado em 1985, e a União, que até hoje não foi julgado pelo Judiciário. Os ex-acionistas contestam os valores de indenização fixados pela União. Vavá nega no depoimento que tenha usado o parentesco com o presidente para conseguir vantagens pessoais e diz que não pretendia encaminhar ao presidente o envelope dos ex-acionistas do Banco Sul Brasileiro.

Vavá disse ainda "que não cometeu crime de tráfico de influência ou de exploração de prestígio, já que nunca foi a nenhum ministério, órgão da administração pública ou tribunal para tentar conseguir vantagens aproveitando o fato de ser irmão do presidente", diz o relatório encaminhado à Justiça e que confirma o indiciamento de Vavá.

Segundo fontes da PF, para que sejam configurados os crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio não é preciso que o fato seja consumado. Basta que o suspeito manifeste a intenção de cometer o crime. As críticas do presidente Lula ao vazamento de informações causaram mal-estar entre responsáveis pela investigação.

- Vavá não era o alvo, mas caiu na rede. Quando a gente joga a rede, vêm peixes grandes mas também peixes pequenos - disse um policial. Anteontem, o presidente Lula se referira a Vavá como um lambari, um peixe pequeno.

Edison Inácio Marin da Silva, filho de Vavá, disse ontem que a família não está preocupada com o vazamento de informações do inquérito:

- Pode vazar, não tem problema. Nosso advogado está tomando conta de tudo lá em Campo Grande - disse Edison.

COLABOROU Flávio Freire