Título: Cafeteira recomenda arquivar o caso Renan
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 14/06/2007, O País, p. 9

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: PSOL deverá pedir ao Ministério Público que investigue denúncias contra o parlamentar

Sem ouvir testemunhas, relator diz não haver provas contra o presidente do Senado; relatório deve ser votado amanhã

BRASÍLIA. Dois dias depois de receber a documentação do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e sem ouvir testemunhas, o relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA) propôs ontem ao Conselho de Ética o arquivamento da representação apresentada pelo PSOL. Cafeteira baseou o parecer em documentos mostrados por Renan, que nem sequer foram periciados. Ele alegou não haver provas que incriminem Renan, e disse que há um processo de difamação contra o Senado.

Apesar dos protestos do PSOL e de críticas ao rito sumário estabelecido para o processo, o presidente do Conselho, Sibá Machado (PT-AC), descartou a possibilidade de realização de audiências e concedeu 48 horas de vista coletiva, para que os senadores analisem o parecer antes de submetê-lo à votação amanhã, às 10h.

Caso processo seja arquivado, PSOL vai recorrer ao STF

Se o processo for arquivado - o mais provável, já que PMDB e PT juntos têm maioria - o PSOL promete recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Vai apresentar mandado de segurança solicitando que o Conselho respeite o rito exigido numa investigação. Também deverá solicitar ao Ministério Público a abertura de investigação para apurar denúncias de que Renan teria tido despesas pagas por Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior, e de que teria usado laranjas para ocultar patrimônio.

No relatório, Cafeteira classificou a representação do PSOL como "lacônica e evasiva" por ter se baseado em matérias jornalísticas e não em provas. Considerou que Renan foi vítima de uma "devassa":

- Não encontrei um único documento que justificasse a abertura de processo.

Cafeteira atribuiu a pressa em dar o voto ao desgaste da instituição. Ele conclamou os colegas a questionarem a onda de denúncias contra autoridades:

- A quem interessa esse clima de denuncismo, em que suspeitas e suposições são capazes de levar autoridades à execração pública e instituições ao descrédito?

O relator avisou que não alterará seu voto:

- Não mudo uma vírgula! Estou há três dias sem comer ou dormir direito. Não tive medo de assumir essa missão, embora saiba que amanhã a imprensa vá dizer que eu fiz uma pizza.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) solicitou cinco dias de prazo para vista do processo. Mas foi contestado pelo líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), que propôs prazo de 24 horas. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), pediu, sem sucesso, 48 horas, desde que o Conselho ouvisse hoje Gontijo e o advogado Pedro Calmon Mendes, que representa a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha. Demóstenes Torres (DEM-GO) promete apresentar voto em separado, assim como o PSDB.