Título: Governo mostra otimismo
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 14/06/2007, Economia, p. 30

Empresários, porém, voltam a criticar real valorizado.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os principais integrantes da equipe econômica não se abalaram com o fato de o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre ter ficado abaixo do esperado e apostam em alta de 4,5% este ano. Isso porque o governo acredita que a economia terá um desempenho mais vigoroso no segundo semestre, o que ocorre tradicionalmente.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a expansão do PIB está sendo puxada pela alta dos investimentos e do consumo. Indagado sobre a participação relevante dos gastos do governo no resultado do PIB, Mantega respondeu que isso reflete a alta dos investimentos públicos na economia e que não é um problema, já que, afirmou, nos quatro primeiros meses do ano as receitas cresceram mais que as despesas.

- Se o governo puder contribuir para um resultado maior da economia, não há nenhum problema - afirmou.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comemorou o resultado. Segundo ele, a taxa de 4,3% mostra que a economia brasileira está em "rota de expansão". Já o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a perspectiva do governo para o segundo trimestre é ainda melhor:

- Já sabemos que o segundo trimestre está muito bom. Com certeza, será melhor que no primeiro trimestre, não só porque a base é fraca (o resultado do segundo trimestre de 2006 foi baixo), mas porque está havendo uma aceleração na atividade industrial.

"Com câmbio equilibrado, PIB poderia crescer 6%"

Entre os industriais, o PIB trouxe certa frustração e reforçou a apreensão com os efeitos do câmbio valorizado sobre a atividade produtiva.

- A valorização cambial vem afetando o desempenho da economia de forma mais duradoura e profunda do que alguns analistas e o próprio governo supunham - disse o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira.

Segundo ele, o fato de as importações terem crescido três vezes mais que as exportações fez com que a demanda externa tivesse contribuição negativa, de 1,4%, derrubando o efeito positivo da expansão da demanda interna, de 5,7%, no PIB do primeiro trimestre:

- Se o câmbio estivesse mais equilibrado, o PIB poderia estar crescendo entre 5% e 6% ao ano.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, se disse preocupado com o fato de a economia estar sendo puxada pelo setor de serviços. E criticou o crescimento abaixo da média mundial.

Para Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias de São Paulo (Ciesp), o crescimento de 3,5% dos gastos públicos é um dos males que afligem a economia. Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base e Infra-estrutura (Abdib), concordou:

- O Brasil não pode perder o foco de criar as condições para um desenvolvimento econômico baseado no aumento dos investimentos, e não somente no do consumo.