Título: 'Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa', diz relator no Conselho
Autor: Vasconcelos, Adriana e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/06/2007, O País, p. 3

Aliados de Renan admitem, porém, que ele terá de apresentar novas explicações

BRASÍLIA. As denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgadas ontem à noite pelo "Jornal Nacional", surpreenderam os governistas e a oposição, e devem provocar uma reviravolta na votação do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que pede o arquivamento do caso, hoje, no Conselho de Ética. Até ontem, o arquivamento era dado como certo, e a situação de Renan, tranqüila.

Mas, apesar das novas denúncias, Epitácio Cafeteira resiste em mudar seu relatório, propondo o arquivamento do processo por quebra de decoro parlamentar apresentado pelo PSOL. Mesmo reiterando que não pretende alterar o parecer, o relator admitiu que as novas denúncias merecem ser investigadas. Mas não agora.

- Tem que apurar, mas não tem que mudar o meu relatório. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Meu relatório é sobre coisa antiga. De qualquer maneira há um grau de dúvida - afirmou Cafeteira.

A oposição deverá usar as denúncias para reforçar o discurso em favor da suspensão da votação do parecer de Cafeteira para a convocação de testemunhas e a realização de perícia nos documentos de defesa apresentados por Renan. Aliados achavam que será inevitável que o presidente do Senado apresente novas explicações antes do início da reunião do Conselho, para que o relatório possa ser submetido a votação.

- As denúncias vão mudar o clima dos debates, mas se vão ser suficientes para mudar a votação, não dá para saber - observou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

Mesmo sem ter assistido ao "Jornal Nacional", Eduardo Suplicy (PT-SP) reiterou ontem seu apelo para que Renan compareça hoje à reunião do Conselho de Ética para esclarecer as dúvidas que ainda pairam sobre sua defesa.

- Espero que Renan vá ao Conselho. Tudo vai depender da maneira como ele esclarecer as novas denúncias. Se não for uma explicação cabal, será difícil votar o relatório de Cafeteira - alertou o senador petista.

A avaliação feita ontem por um grupo de governistas é de que as novas denúncias atingem a base da defesa de Renan: declarações de renda e recibos de investimentos agropecuários em Alagoas, sua principal fonte de rendimentos nos últimos quatro anos, essenciais para a comprovação de que ele tinha condições de arcar com a pensão de R$12 mil paga à jornalista Mônica Veloso, com que tem uma filha. A quantia foi paga durante o período de gestação e antes do reconhecimento oficial da paternidade.

"Se explicação não for cabal, denúncia vai influenciar Conselho", diz Casagrande

Para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), as denúncias reforçam a posição do partido de apresentar relatório em separado, por intermédio do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que deverá solicitar a realização de pelo menos duas audiências: a do advogado da jornalista Mônica Veloso e a do lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, que teria intermediado o pagamento da pensão.

- Isso só reforça a tese do voto em separado do Democratas e a necessidade de perícia dos documentos - disse Agripino.

Para aliados de Renan, a melhor alternativa seria adiar a votação do relatório. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), pediu cautela:

- Renan diz que tem toda a documentação que comprova a comercialização do gado. Se tem, vamos esperar que apresente explicação. Mas se não for cabal, isso pode influenciar na decisão do Conselho.