Título: Partidos já negociam sistema de lista flexível
Autor: Franco, Ilimar e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 15/06/2007, O País, p. 8

Pela proposta, eleitores poderiam votar também no nome de um candidato; financiamento da campanha seria público.

BRASÍLIA. Para tentar salvar a proposta de reforma política, que pretende instituir o financiamento público das campanhas eleitorais, os partidos começaram a negociar a aprovação de um sistema de votação em lista flexível. Nesse sistema, adotado na Bélgica e na Suíça, os eleitores poderiam votar duas vezes para o Legislativo, uma vez na lista partidária e outra vez no nome de um candidato, permitindo ao eleitor mudar a ordem da lista. O relator da reforma, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), está negociando com representantes de diversos partidos, desde a noite de quarta-feira, quando a proposta de lista fechada ficou politicamente inviabilizada, uma proposta capaz de obter a maioria dos votos da Câmara:

- Estamos debatendo a adoção da lista flexível com financiamento público, mesmo reconhecendo que esta proposta implica um risco enorme de que se mantenha o caixa dois e ocorram novos escândalos de financiamento eleitoral ilegal.

Líderes e deputados de vários partidos, inclusive do PSDB, que passou a ser contra a reforma política, reuniram-se na noite de quarta-feira para tentar impedir a derrota completa do relatório Caiado. Nesse encontro, chegou-se a propor que fosse mantida a proposta de votação em lista fechada com sua entrada em vigor adiada para 2014. Mas prevaleceu a tese de que se deveria buscar uma proposta de votação em lista flexível com financiamento público e proibição de campanhas com material de propaganda individual.

- Estou muito otimista nas negociações para que seja aprovada a votação em lista flexível - afirmou o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

Deputados defendem financiamento misto

A lista flexível deve reduzir a dissidência na bancada do PT, um dos fatores que contribuiu para inviabilizar a lista fechada, mas está gerando críticas de outros setores. Se a ordem da lista puder ser mudada, haverá concorrência entre candidatos da mesma lista e isso estimulará as campanhas individuais e o uso de recursos privados para custeá-las. Por isso, um grupo de deputados avalia que o mais adequado é adotar um sistema de financiamento misto, pelo qual as campanhas para os cargos majoritários (presidente, governador e senador) seriam feitos com financiamento público. Já para os cargos onde houver concorrência (Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) seria permitindo o financiamento privado com limitações para gastos e doações.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que trabalhou ativamente pela aprovação da votação em lista fechada, está agora mais cauteloso e demonstrou preocupação com a eventual aprovação de uma "reforma Frankstein".