Título: Lula: 'Brasileiros adoram falar mal do país'
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto e Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 15/06/2007, Rio, p. 15

A GUERRA DO RIO: Senasp planeja realizar ainda este mês simulação do esquema montado para os jogos

Para presidente, suíços não criticam a Suíça. Segundo ele, imagem do Brasil "vai para a cucuia" se houver violência no Pan

Luiz Ernesto Magalhães e Selma Schmidt

Aos pés da estátua do Cristo Redentor, que visitou ontem com o objetivo de estimular a campanha para eleger o monumento entre as novas sete maravilhas do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os brasileiros ajudam a construir uma imagem negativa do Brasil no exterior por falarem mal do próprio país.

- Quem viaja muito pelo mundo às vezes volta decepcionado com a imagem que se cria do Brasil lá fora. Acho que o Brasil talvez seja o único país em que os brasileiros viajam e falam mal do país. Você não vê um suíço falar mal da Suíça, um italiano falar mal da Itália. Mas os brasileiros adoram falar mal do nosso país. Nós temos que cuidar daquilo que queremos preservar e da imagem que queremos ter aqui e lá fora.

Para Lula, é preciso reconhecer que o Brasil tem coisas boas e ruins, e que falar bem do país depende só dos brasileiros.

Veículos com erro de português nos adesivos

Depois, no Autódromo Nelson Piquet, onde entregou cerca de mil dos 1.768 veículos que serão usados na segurança dos Jogos Pan-Americanos, Lula voltou a criticar a mídia porque, segundo ele, as coisas boas que acontecem não são divulgadas como deveriam.

- Às vezes a gente só vê desgraça. A gente precisa mostrar que é verdade que tem desgraça. Mas que tem muita coisa boa aqui no Rio e isso não é mostrado como deveria. Por que o cidadão às vezes liga a televisão e a impressão que tem é que só tem bandido no Rio de Janeiro. Quando na verdade o Rio tem 99% de homens e mulheres honestos e trabalhadores que ganham dinheiro com seu suor. E muitas vezes isso não aparece.

O presidente disse também que a imagem do país "vai para a cucuia" caso seja registrado algum episódio grave de violência na cidade durante o Pan:

- Vão vir muitos estrangeiros. Se acontece uma desgraça, o Brasil vai para a cucuia. Vão dizer não dá para fazer investimento no Brasil; que não podemos ter as Olimpíadas no Brasil porque tem violência. Nós temos que cuidar do Pan.

O presidente acrescentou que o esquema de segurança montado para o Pan é o embrião de uma nova forma de tratar o tema em todo o país. O programa prevê o emprego não apenas de forças policiais, mas também o desenvolvimento de projetos de cidadania.

- O Rio está funcionando como uma escola - disse. - Se der certo, como penso que vai dar, teremos um novo modelo de segurança para o país. Vamos poder diminuir substancialmente a violência no Brasil.

Lula admitiu ontem que não imaginava que seria tão caro para o país organizar o Pan. Ele acreditava que bastaria trazer os atletas e realizar as competições, sem qualquer outro obstáculo. Hoje os investimentos dos governos federal, estadual e municipal com os jogos devem chegar a R$3,5 bilhões:

- Depois que o Rio ganhou o direito de fazer o Pan, começaram os problemas. Eu imaginava que estava tudo pronto. Não precisava fazer nada. Era só trazer atletas e começar os jogos. Não é assim. O governo federal, o estado e a prefeitura estão investindo no Pan mais de R$3,5 bilhões. É muito dinheiro. Esse é um evento internacional que terá que mais de 1.500 jornalistas estrangeiros.

No discurso, o presidente cometeu alguns equívocos e gafes. Disse, por exemplo, que o Rio precisou disputar com São Paulo a indicação para representar o Brasil na disputa pelo direito de ser sede do evento. Na verdade, não houve outra cidade-candidata. A disputa com São Paulo aconteceu em 2003 para determinar que cidade seria representante do Brasil na candidatura aos Jogos Olímpicos de 2012.

Ao comentar com Cabral que os carros são equipados com computadores, Lula afirmou que seria preciso vigiar os policiais para que eles não brincassem com joguinhos durante o trabalho.

Ao todo, a frota do Pan terá ao todo 1.768 carros. A lista inclui 1.163 viaturas para a PM, 357 motocicletas, 99 ônibus, 53 furgões, 50 ambulâncias e 11 quadriciclos. Dos cerca de mil veículos entregues ontem, muitos ainda estavam sem placas e continham erros de português nos adesivos de identificação: o acento agudo da palavra "polícia" estava sobre a letra L. O restante da frota, de acordo com a Senasp, já chegou à cidade, mas ainda estão sendo equipados com rádios e computadores.