Título: Lula quer construir a usina nuclear de Angra 3
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 15/06/2007, Economia, p. 24

Presidente garante que central fornece energia limpa e é necessária para o crescimento do país.

ANGRA DOS REIS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer construir a usina nuclear de Angra 3 para atender ao crescimento da demanda de energia na próxima década e, com isso, garantir o crescimento do país. Em discurso para centenas de metalúrgicos do Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, no Rio, onde foi construída a plataforma P-52, Lula destacou a importância da usina.

- Para crescer acima de 5%, nós vamos ter que dizer aos investidores que não vai faltar energia neste país a partir de 2012, porque até lá está garantido - destacou Lula.

Lula disse que não tem sentido não construir a usina porque a energia nuclear é limpa, não polui, não emite gás carbônico e, por isso, não contribui para o aquecimento global. Ele também destacou a excelência da tecnologia nuclear brasileira. A decisão sobre Angra 3 deverá ser tomada na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Econômica (CNPE), no próximo dia 25.

O presidente participou ontem da solenidade de batismo da P-52 da Petrobras, a primeira a ser construída no Brasil, com um índice de nacionalização de 76%. A contratação no país da P-52, bem como da P-51 - em construção no mesmo estaleiro -, foi promessa de campanha de Lula.

Em um discurso improvisado de quase 40 minutos, o presidente mostrou muito bom humor. Caminhando de um lado para outro do palco, Lula arrancou aplausos e risadas e, no fim, distribuiu autógrafos. Além da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, estava presente o governador do Rio, Sérgio Cabral.

"Um japonês vai encontrar uma broca da Petrobras"

Com o palco instalado de frente para o sol no início da tarde de ontem, Lula começou o discurso já arrancando risos:

- Normalmente as autoridades ficam na sombra e o povo, de cara para o sol. Acho que Deus deve ter enviado um engenheiro da Petrobras para fazer este palanque e nos colocou com a cara para o sol para nós aprendermos um pouco como o povo sofre.

Lembrou que foi criticado ao ter escolhido José Sérgio Gabrielli, hoje presidente, para ser diretor financeiro da empresa.

- Falaram que o mercado não aprovaria. Certamente esse tal de mercado não votou em mim - disse Lula.

Ele destacou a importância de sua política de exigir a construção de plataformas no país. Segundo o presidente, isso permitiu a retomada da indústria naval brasileira, que nos últimos quatro anos gerou 400 mil novos empregos. E prometeu aos metalúrgicos novas encomendas. Uma delas é a P-56, que a Petrobras está negociando para ser construída pelo mesmo grupo que está fazendo a P-51 (Keppel Fels e Technip), no Estaleiro Brasfels. E arrancou mais aplausos ao dizer que os trabalhadores buscam a garantia da manutenção de seus empregos, semelhante aos filhotes de passarinho à espera de comida:

- Não posso impor à Petrobras o que eu quero porque (a empresa) tem ações em Nova York. Mas nós precisamos que essa peãozada não seja mandada embora.

Referindo-se à profundidade em que a P-52 vai produzir petróleo, voltou a brincar:

- Logo, logo, vai aparecer um japonesinho. Logo vai furar o planeta, vai encontrar uma broca da Petrobras, uma broca da Venezuela, da Rússia...