Título: Cafeteira ameaçou renunciar mas voltou atrás a pedido da mulher
Autor: Vasconcelos, Adriana e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/06/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: "Entrego a relatoria. Não vou ficar desmoralizado!".

Relator do caso Renan brigou para votar relatório que arquivava processo.

BRASÍLIA. Designado a contragosto relator pelo bloco governista, justamente para garantir uma tramitação rápida ao processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros(PMDB-AL), no Conselho de Ética, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) por pouco não estragou a estratégia montada ontem para tentar reverter a crise gerada pela divulgação da denúncia de que Renan teria usado notas frias em sua defesa. Indignado com as críticas de que nada fizera para investigar o caso, quase às lágrimas e reclamando de uma longa convalescença médica, ele ameaçou renunciar se seu relatório não fosse votado ontem. Pediu ao presidente do Conselho, Sibá Machado (PT-AC) que o substituísse pela líder do PT, Ideli Salvatti (SC), alegando que queria encurtar ao máximo o processo, pois precisava ir pra casa dormir em paz.

Apesar dos apelos quase dramáticos de aliados de Renan - como os líderes do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e do PT, Ideli Salvatti (SC) - para que aceitasse adiar para a terça-feira a votação de seu parecer, que propõe o arquivamento do processo, Cafeteira só aceitou o acordo que havia sido fechado com a oposição depois de receber um telefonema da própria mulher, dona Bebel, com quem está casado há 40 anos. Renan interferiu pessoalmente e ligou para dona Bebel para que ela o convencesse.

- Recebi um telefonema agora da pessoa a quem eu devo a vida, minha mulher, e ela me pediu para eu concordar com o adiamento da votação do meu relatório Só por isso vou aceitar - declarou Cafeteira, para o alívio do plenário.

Relator diz que está convalescendo de doença

Irritado com as críticas de colegas ao seu parecer, pelo fato de não ter ouvido nenhuma testemunha e nem periciado os documentos apresentados por Renan em sua defesa, Cafeteira - que havia passado todo o início da reunião do Conselho calado, ora comendo biscoito ora lendo jornal - desabafou, quando foi indagado pelo presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), se concordava com o adiamento da votação:

- Estou convalescendo. O jornalista Jorge Moreno (do GLOBO) chegou a publicar em sua coluna que eu ressuscitei sem ter morrido. Mas o fato é que, no começo do ano, sai daqui (Brasília) para São Paulo, em coma e nu dentro de um avião com minha mulher, mesmo assim aceitei essa missão. Fico agora desnorteado quando se cria tanto problema. Se quiserem mudar a data da votação, entrego a relatoria para a senadora Ideli Salvatti. Não vou ficar desmoralizado ! - anunciou.

Virgílio perde a paciência e até concorda com renúncia

A ameaça de Cafeteira caiu como uma bomba entre os governistas. A indicação de um novo relator poderia arrastar a crise por semanas.

- Quero encurtar isso. Melhor ficar em casa, sem ninguém duvidar da minha palavra. Fiquei os últimos dias sem dormir, a ponto de minha mulher me achar às 3 horas da manhã dentro do banheiro. Ela pensou até que eu estivesse passando mal, mas não, eu estava lendo os documentos do processo. O que estou pedindo é que se cumpra o regimento - insistiu.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), perdeu a paciência:

- Talvez seja mesmo melhor vossa excelência renunciar. Porque do jeito que está não é bom para o Conselho, não é bom para o Congresso, não é bom para o presidente Renan

Ao final da confusão, ele aceitou o adiamento.